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Editorial desta sexta-feira: "Passa cigarro, passa tudo..."

Editorial desta sexta-feira: "Passa cigarro, passa tudo..."

Redação

08/12/2017 - 03h00
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O que difere os contrabandistas dos traficantes de droga é apenas o item transportado. A característica comum entre estas atividades criminosas é a clandestinidade de suas rotas.

Somente a certeza de que não será flagrado leva um contrabandista de cigarros a despachar, de uma vez só e pela mesma rota, seis carretas e dois caminhões carregados de cigarros cuja comercialização em território brasileiro é ilegal. Esta foi a situação flagrada na última quarta-feira no trecho compreendido entre Vista Alegre, distrito de Maracaju, e a sede do município, nas rodovias MS-164 e BR-267.

Da apreensão recorde, de aproximadamente 7,8 mil caixas, que por sua vez contêm 390 mil pacotes (avaliados em R$ 9,7 milhões), deve-se elogios ao Departamento de Operações de Fronteira (DOF), autor da operação.  Tal ação demandou o serviço de inteligência e o setor operacional desta força de segurança, criada pelo Estado de Mato Grosso do Sul nos anos 1980 para patrulhar a região de fronteira com o Paraguai e a Bolívia.

Este departamento mantido sem recursos federais (ao menos diretamente), com sede em Dourados, porém, em que pese o trabalho incansável de seus integrantes não dá conta de guardar, sozinho, uma região extremamente perigosa e tomada por criminosos. É preciso auxílio das forças federais, como as polícias Federal e Rodoviária Federal, além da atuação esporádica da Força Nacional de Segurança Pública.

O trabalho destas três instituições ligadas ao Ministério da Justiça, porém, está muito distante de produzir os resultados que a sociedade espera. Por tratar-se de crime fazendário, a própria Receita Federal também deve ser mais atuante contra o contrabando.

Especialistas em segurança pública foram categóricos em reportagens publicadas neste veículo nos últimos 30 dias, ao afirmarem que os mesmos caminhões que levam cigarros contrabandeados do Paraguai também podem transportar cocaína, maconha, armamento pesado e agrotóxicos de comercialização ilegal. O que difere os contrabandistas dos traficantes é apenas o item transportado. A característica comum entre estas atividades criminosas, e a principal de ambas, é a clandestinidade.

Esta não é a primeira vez, e certamente não será a última, em que o reforço da segurança das fronteiras é tido como fundamental para coibir o crime nos grandes centros do Brasil.

O que não existe, porém, são atitudes concretas e incisivas por parte do Ministério da Justiça. A Polícia Federal, por exemplo, que há quase uma década espera por uma delegacia nova - e mais estruturada - em Ponta Porã, teve seu foco desviado nos últimos anos.

A instituição cumpre seu dever de combater a corrupção, mas aparenta só fazer isso. As ações contra o tráfico ainda ocorrem, mas parecem ter perdido importância na cúpula da instituição.

Já a Polícia Rodoviária Federal sofre com outro problema: o sucateamento. Quando os policiais que trabalham nas estradas conseguem, eles fazem um bom trabalho. O problema é o descaso do governo federal, que entra ano, sai ano, não faz nada para impedir a drástica redução de seu efetivo.

Reafirmamos: a solução para reduzir o tráfico e o contrabando é uma só: aumentar o controle sobre o que entra e o que sai do País na região de fronteira.