Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

A+ A-

Editorial desta quinta-feira: "População está atenta"

Editorial desta quinta-feira: "População está atenta"

Redação

06/08/2015 - 00h00
Continue lendo...

Os protestos de terça e quarta-feira na Câmara dos Vereadores são um indicativo do que virá pela frente neste semestre: a cobrança da população por mais lisura e transparência na execução de contratos e na gestão dos recursos públicos

A população campo-grandense deu sinais, nesta semana, de que está atenta aos desdobramentos da Operação Lama Asfáltica. O recado foi dado nas sessões da Câmara dos Vereadores, depois do retorno do recesso parlamentar. Houve distribuição de cafezinho (porém, não adoçados com dinheiro), cartazes, palavras de ordem e, como já era esperado, violência da Guarda Municipal para conter quem foi protestar.

A reação dos moradores da Capital aos escândalos desmascarados pela Polícia Federal, há quase um mês, mostra que os políticos parecem não estar em sintonia com as expectativas dos cidadãos. As pessoas sabem, e muito bem, conectar os fatos, ligar as informações. Elas contextualizam acertadamente tudo o que está havendo. 

No protesto na Câmara dos Vereadores, foi possível verificar que a população vê conexão entre os casos que tiveram destaque no noticiário nos últimos trinta dias. Os desvios de dinheiro público por meio de obras e fraudes em licitação investigados na Operação Lama Asfáltica, as denúncias de distribuição de propina (apelidada de “cafezinho”) pelo empreiteiro João Amorim a políticos e empresários, as conversas interceptadas pela Polícia Federal que flagram negociação de suposta compra de votos na sessão que cassou o ex-prefeito Alcides Bernal, o pagamento escalonado dos servidores públicos municipais por falta de dinheiro, e o contraditório aumento milionário no repasse mensal ao Consórcio CG Solurb, responsável pela coleta de lixo em Campo Grande e ligado a João Amorim, apontado como chefe de quadrilha pela Polícia Federal. 

Os protestos de terça e quarta-feira também são um indicativo do que virá pela frente neste semestre: a cobrança da população por mais lisura e transparência na execução de contratos e na gestão dos recursos públicos, e ainda mais manifestações. 

Há uma greve de professores em curso para a administração municipal buscar um acordo, existe um indicativo de atraso no pagamento de salários dos servidores públicos até o fim do ano e uma incerteza grande quanto ao pagamento do 13º salário. 

No plano nacional, as coisas também não estão fáceis e contribuem ainda mais para os dias tensos que estão por vir. O cenário é de crise econômica, aumento no desemprego, desaquecimento na indústria e no comércio, inflação maior e renda do trabalhador menor.

As denúncias de desvio de dinheiro público, pagamento de propina a políticos e escassez de serviços essenciais deixam o cidadão, que já enfrenta dificuldades para pagar suas contas (com os juros gradativamente mais altos) em dia, cada vez mais intolerante com quem pratica estes crimes de colarinho-branco.

O recado da população já começou a ser dado nesta semana. Resta saber se os políticos entenderão o que a população, de fato, espera deles. O próximo encontro entre os atuais detentores de mandato e os eleitores já está marcado para outubro do ano que vem. Nas urnas.