O caminho do dinheiro desviado também poderá chegar a muitos políticos, e ainda minar planos de muitos deles para chegar a cargos públicos, como a Prefeitura de Campo Grande
A Operação Lama Asfáltica foi desencadeada em Mato Grosso do Sul e deixou donos de empresas que têm o poder público como seu maior cliente, além de muitos políticos, apreensivos.
Ação que nos bastidores da Polícia Federal leva o apelido de “Mini-Lava Jato”, a investigação da superintendência sul-mato-grossense da PF tem objetivo muito semelhante à que surgiu há dois anos em Curitiba (PR) e hoje sacode as estruturas do poder central em Brasília (DF). Ambas apuram corrupção e lavagem de dinheiro de recursos superfaturados de licitações de obras públicas.
Em Mato Grosso do Sul, a Lama Asfáltica, inicialmente, detectou irregularidades em contratos de R$ 11 milhões, na pavimentação da MS-430, entre as cidades de Rio Negro e São Gabriel do Oeste; na implantação da Avenida Lúdio Coelho, em Campo Grande; e também na construção do aterro sanitário da Capital. As duas primeiras obras foram tocadas pelo empreiteiro João Amorim, empresário dono da Proteco Construções, e também genro de Luciano Dolzan, proprietário da LD Construções. O aterro sanitário foi construído pela Anfer.
O superfaturamento nestas três obras, conforme detectado pela Controladoria-Geral da União, Receita Federal e Polícia Federal, é de pelo menos R$ 4,7 milhões. Dinheiro que, segundo a PF, foi lavado por meio de doações para campanhas eleitorais e para o capital social de outras empresas: manobra contábil que, além de “limpar” o dinheiro sujo oriundo do desvio de verba pública, ainda ajuda as empresas envolvidas na trama a sonegar impostos.
Assim como na Operação Lava Jato, que já passa de 15 etapas realizadas, as investigações da Lama Asfáltica devem continuar. Agentes envolvidos na operação afirmam que os R$ 11 milhões em contratos verificados são apenas a ponta do iceberg de mais casos de desvio de dinheiro público que ainda estão por vir.
Para se ter uma ideia, a empreiteira Proteco, por exemplo, tem em torno de R$ 230 milhões contratados com o governo do Estado e com a Prefeitura de Campo Grande. A Polícia Federal afirma que João Amorim, sua empresa e todos os outros investigados na operação movimentaram ao menos R$ 600 milhões desde o ano passado.
A força-tarefa que investiga os crimes de sonegação de impostos, corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público já deu a dica para as próximas fases da Lama Asfáltica: o destino dos recursos. Seguir o dinheiro, mantra popularizado durante as investigações do caso “Watergate” pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, que resultou na queda do presidente norte-americano Richard Nixon, na década de 1970, diz muito sobre o que veremos adiante.
Reportagem publicada na edição de hoje demonstra que empresários investigados na operação da PF em Mato Grosso do Sul podem ter escondido parte do dinheiro obtido por aqui em empresas offshore (que podem ser abertas por pessoas que têm domicílio em outros países) em paraísos fiscais.
O caminho do dinheiro desviado também poderá chegar a muitos políticos, e ainda minar planos de muitos deles para chegar a cargos públicos, como a Prefeitura de Campo Grande.


