O protesto dos funcionários da Solurb tornou real uma comparação que vinha sendo feita às últimas administrações municipais de Campo Grande, a de que a cidade está um lixo
Reconduzido recentemente ao gabinete de prefeito, Alcides Bernal terá seu primeiro desafio pela frente nesta segunda etapa da gestão. A missão dele será normalizar o serviço de coleta de lixo de Campo Grande, cujas atividades foram paralisadas na noite de terça-feira (8). Os 1.080 trabalhadores da CG Solurb queixaram-se de, até a tarde de ontem, não terem recebido o salário do mês passado. O resultado do impasse: mais de 800 toneladas de lixo espalhadas pelas ruas da Capital.
O protesto dos funcionários tornou real comparação que vinha sendo feita às últimas administrações municipais de Campo Grande, a de que a cidade está um lixo. Os sacos pretos espalhados pela rua são nada menos que o retrato dos últimos governantes que passaram pela prefeitura.
O lixo acumulado nas vias exemplifica a desorganização, o descaso e a falta de cuidado com que os campo-grandenses têm sido tratados por seus últimos prefeitos. A julgar pelo resultado de investigações policiais, a praxe nos últimos anos tem sido o privilégio a empreiteiras e fornecedores de índole duvidosa, em detrimento da valorização do serviço público prestado.
No momento, o prefeito Alcides Bernal deve se preocupar em fazer a cidade funcionar, o que não parece que tem sido realizado. Ao lidar ontem com a paralisação dos trabalhadores da Solurb, Bernal demonstrou mais preocupação em procurar os culpados do problema do que, efetivamente, concentrar-se na solução dele.
A Operação Lama Asfáltica da Polícia Federal já demonstrou de forma ampla e detalhada o envolvimento dos proprietários da prestadora de serviço (uma sociedade entre a LD Construções e a Anfer Construções) em esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, desvio de verba pública e formação de quadrilha. A mesma investigação da PF também revelou suposto esquema de compra de votos para cassar Bernal, no ano passado, com o envolvimento de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à Solurb.
Todo este caso, no entanto, já está sendo amplamente investigado pelas instituições responsáveis, como a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Para o atual prefeito, o que existe, na prática, é um contrato de concessão firmado entre o município de Campo Grande e uma empresa prestadora de serviços, e o cumprimento dele é que deve ser fiscalizado por sua administração. Os crimes verificados nas investigações devem ser apreciados pelo Poder Judiciário.
O que o campo-grandense espera, em curto prazo, é ver a fachada de sua casa limpa, sem lixo jogado nas ruas, e, no médio prazo, que sejam sanadas eventuais irregularidades do contrato. A polêmica que envolve a coleta de lixo na Capital existe desde que a Solurb venceu a licitação, ainda no mandato de Nelson Trad Filho, no fim de 2012. A prestação de serviço, que começou com um repasse mensal de R$ 4,8 milhões, hoje é de mais de R$ 10 milhões. O cofre da prefeitura não aguenta tal peso.