O silêncio de Gilmar Olarte diante do incoerente aumento de repasse para o consórcio do lixo é comprometedor. Ou ele é complacente, ou é cúmplice desse generoso reforço de caixa para a empresa dos investigados na Lama Asfáltica
O município tem cada vez mais dificuldade de explicar o exorbitante aumento do repasse mensal ao Consórcio CG Solurb, responsável pela limpeza urbana em Campo Grande. Agora, o contrato, que desde o início do ano garantia repasse mensal de R$ 9,6 milhões à concessionária, foi para “astronômicos” R$ 14,3 milhões por mês.
Em dois anos e sete meses, período que a Solurb assumiu o serviço de limpeza urbana e coleta de lixo em Campo Grande, a evolução do repasse mensal é ainda mais difícil de ser compreendida. Em novembro de 2012, o consórcio recebia R$ 4,3 milhões/mês e, neste período, viu seu caixa ficar cada vez mais robusto, com acréscimo de R$ 10 milhões: aumento de 232%.
No mesmo período, a produção de lixo da capital sul-mato-grossense passou de 650 para 800 toneladas, acréscimo de volume que não justifica o absurdo crescimento do repasse. A inflação de 21,3% verificada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também ajuda a tornar ainda mais inverossímil qualquer outro argumento que a Prefeitura de Campo Grande apresente para o aumento do repasse ao consórcio. É simplesmente onze vezes menor que a variação do ganho mensal da concessionária.
O cenário atual também não conspira em nada para qualquer incremento de recursos à Solurb. Justamente nos anos de 2014 e 2015, quando a receita da Prefeitura de Campo Grande passou a ser menor, influenciada pela crise econômica, a transferência de dinheiro para a coleta de lixo aumentou.
Fica difícil para o prefeito Gilmar Olarte explicar aos servidores – os quais, ao longo deste mês, receberão de forma escalonada os salários do mês passado, por causa das dificuldades financeiras – que, só no último mês de junho, o município transferiu R$ 14,3 milhões para a conta da empresa formada pela união entre a Financial Construtora, do empresário Antônio Fernando Araújo Garcia, e a LD Construções, de Luciano Dolzan, genro de João Amorim.
Todos os meses, esses empresários e empresas investigados pela Polícia Federal, na Operação Lama Asfáltica, recebem quantia milionária dos cofres públicos. Uma Mega-Sena, praticamente. Dinheiro que faz falta nas ruas da cidade, quase sem nenhuma sinalização; em alguns parques da cidade, que estão fechados por falta de dinheiro para reforma; e em muitas escolas da rede municipal.
O cenário de crise econômica cairia como uma luva para justificar todos esses problemas vividos pela população campo-grandense. O abusivo aumento do repasse à Solurb, no entanto, pesa contra a administração municipal e leva o cidadão a indagar se, em pouco tempo, pagará impostos para exclusivamente engordar o caixa de concessionárias e empreiteiras.
O silêncio de Gilmar Olarte diante do incoerente aumento de repasse para o consórcio do lixo é comprometedor. Ou ele é complacente, ou é cúmplice desse generoso reforço de caixa para a empresa dos investigados na Lama Asfáltica.