A termelétrica William Arjona marcou o início da operação do Gasoduto Bolívia-Brasil e agora, em um momento de incerteza com a arrecadação, sua reativação também é um marco importante
Toda mudança gera um certo receio e um pouco de ansiedade. As pessoas temem uma realidade que não conhecem e, à medida que alguma grande mudança se aproxima, as preocupações daqueles mais precavidos aumentam. Não poderia ser diferente. O ser humano só chegou aonde chegou, em termos evolutivos, justamente para tornar o seu cotidiano mais fácil, garantindo mais tranquilidade para enfrentar o inesperado.
Assim também ocorre em algumas situações envolvendo o setor privado e o poder público. A partir de janeiro do ano que vem, por exemplo, o contrato entre a Petrobras e o governo da Bolívia não terá mais vigência. Assinado em 1999, ele previa a importação mensal de até 30 milhões de metros cúbicos de gás natural, que na época seriam o bastante para abastecer os mercados por onde passa o Gasoduto Bolívia-Brasil: os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O Gasbol, vale destacar, foi muito importante para o fornecimento de energia para o Centro-Sul do Brasil nos últimos trinta anos. Em primeiro lugar, ajudou o governo federal a se livrar do temor do “apagão”. No início da década de 2000, uma estiagem prolongada reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas, e a União deu início a um racionamento de energia e a um plano para reativar termelétricas e diversificar a matriz energética brasileira.
É neste contexto que Mato Grosso do Sul teve uma guinada histórica em sua arrecadação de impostos. Curiosamente, desde que os recursos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do gás natural entraram regularmente no caixa do Estado, nunca mais houve atraso de salários de servidores e ainda existiu margem para investimentos em infraestrutura.
O primeiro grande evento do Gasbol também poderá se tornar o símbolo da segurança que falta ao governo de Mato Grosso do Sul neste momento de incerteza com o fim do contrato da Petrobras. A usina termelétrica William Arjona foi a primeira estrutura brasileira a ser abastecida com o gás natural importado da Bolívia. A estação geradora, que estava desativada há dois anos, voltará a funcionar em breve . É a segurança que faltava para o governo neste momento de incerteza. Serão nada menos que 1,3 milhão de metros cúbicos diários consumidos somente pela usina.
Para os próximos anos, aí sim, haverá ainda mais segurança financeira com o ICMS do gás natural. Entrará em operação a fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (UFN3) e ainda poderá se concretizar o plano de instalação de outra termelétrica, em Corumbá.