Precisou o Samu praticamente parar de vez para que a Prefeitura de Campo Grande abrisse licitação de novas viaturas.
A Prefeitura de Campo Grande mostrou que, quando quer, é capaz de fazer brotar recursos. Uma semana após publicação de reportagem do Correio do Estado sobre a falta de ambulâncias na Capital, foi anunciada licitação para a compra de novos veículos, a fim de que o serviço – tão importante para a população – possa atender com o mínimo de estrutura possível. A precariedade no Samu chegou a tal ponto que o serviço ficou perto de ser suspenso por falta de veículos – nove deles estão em estado tão avançado de desfazimento que não há outro destino que não seja o ferro-velho. Com isso, somente dois veículos estão, de fato, operando. São duas ambulâncias para um serviço que recebe 32 mil ligações em um único mês, conforme balanço do mês de junho. Duas mil e oitocentas pessoas foram atendidas pelas ambulâncias do Samu, e o que aconteceu com as demais? Outras duas mil pessoas foram atendidas por telefone. As 28 mil restantes, ninguém sabe. Parte foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros, que dá suporte ao Samu, mas a maioria teve de esperar pela ajuda de um parente, vizinho ou até mesmo de um completo estranho. Mais um serviço precário para uma população, que é obrigada a esperar por consultas médicas, por uma maca ou até mesmo por uma vaga no centro cirúrgico de hospitais públicos.
O sucateamento da maioria das viaturas do Samu não pode ser colocado somente na conta do atual prefeito Marcos Trad. Administrações passadas conturbadas contribuíram para este resultado, o que não tira, do atual gestor, a responsabilidade de mudar esse quadro de precarização da saúde de Campo Grande. O comprometimento pelo serviço é tanto da prefeitura quanto do Ministério da Saúde. Um dos maiores problemas está relacionado à gestão. Com o dinheiro gasto em manutenção de viaturas antigas, seria possível renovar toda a frota de ambulâncias e ainda sobraria recursos. Em outra reportagem, o Correio do Estado apurou que, em seis anos, o governo gastou R$ 2,302 milhões na manutenção de 16 viaturas do Samu, valor suficiente para renovar a frota e ainda comprar mais ambulâncias.
A abertura de licitação para a compra de novas viaturas é de extrema importância, mas não significa, necessariamente, um aumento da frota. Com nove viaturas prestes a serem encostadas, é bem possível que esta compra seja exclusivamente para reposição. Medida, por sinal, que deveria ser frequente. Com o volume de trabalho de uma cidade do porte de Campo Grande, esse processo de renovação e aquisição de novas viaturas deveria ser frequente. Sem um cronograma de renovação, lembrando que cada viatura tem durabilidade estimada de cinco anos, dificilmente se colocará fim a esse risco de paralisação por falta de viaturas. O número de profissionais e ambulâncias disponíveis também precisa acompanhar o crescimento populacional. Caso contrário, esse pedido de socorro será eterno.
Enquanto essa cultura de apagar incêndios se prorrogar, Campo Grande continuará inaugurando hospitais que não operam por falta de recursos ou gastando mais para reformar veículos velhos do que comprando novos.