Fosse a população campo-grandense mais consciente ao jogar o lixo, a concessionária do serviço de limpeza urbana não seria campeã de acidentes de trabalho.
Quem não se lembra da cena que deixou os brasileiros boquiabertos na Copa de 2014, na Arena Pantanal, em Cuiabá (MT), quando os torcedores japoneses, ao final da derrota por 4 a 1 para a Colômbia, recolheram todo o lixo que havia ao redor de seus assentos? Não estamos falando aqui dos próprios resíduos, mas dos objetos jogados por terceiros. Este é um dos exemplos de consciência e cidadania que deveria ter servido de lição para os brasileiros, quase quatro anos depois do evento mundial.
Técnicas orientais sobre a organização de ambientes são celebradas: caso do Feng Shui. Ainda sobre os povos de origem asiática, voltamos ao jogo da Copa do Mundo para frisar que a disposição para o trabalho de limpeza está integrada à consciência de japoneses e outros povos orientais. A paz – e um mundo com o mínimo possível de danos – só é possível em um ambiente organizado, em que todos fazem a sua parte. No Brasil, o conteúdo desta última frase é o mais difícil de se ver na prática. Ainda é muito raro ver pessoas que têm a devida noção do papel que exercem na sociedade.
Fosse a população brasileira mais consciente, a empresa responsável pela coleta de lixo e limpeza urbana da capital de Mato Grosso do Sul, CG Solurb, não seria a campeã de acidentes de trabalho na cidade. Claro, toda a culpa por números expressivos divulgados em reportagem na edição desta sexta-feira não deve recair sobre quem joga o lixo, mas, se existisse mais consciência, haveria muito menos a se limpar e riscos muito menores ao se fazer a coleta.
Contextualizando os números, foram 248 acidentes de trabalho entre os funcionários da CG Solurb no ano passado, registro 60% maior do que o do ano anterior, de 155 casos. Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), os garis ocupam a quinta posição entre os que mais sofrem acidentes ocupacionais em Mato Grosso do Sul.
Quando à parte que cabe à empresa, a própria Justiça do Trabalho já chegou a falar em condições inaceitáveis, como a exposição ao risco que os coletores têm ao ficarem pendurados nos caminhões. Para piorar, são pouquíssimas as campanhas conscientizadoras que a CG Solurb promove, seja por meio da imprensa, seja pela realização de atividades educacionais nos bairros de Campo Grande.
No que concerne à população, é importante frisar a importância dos garis e coletores de lixo e o papel fundamental que estes exercem para a sociedade. Quase invisíveis para muitos, eles fazem contribuição indispensável para a saúde pública, além de ajudar o ambiente coletivo a ser mais organizado. Basta um dia sem o trabalho deles para que os moradores de uma cidade sintam a diferença. Cabe a todos os cidadãos ter mais consciência, e cabe à concessionária do serviço de limpeza urbana zelar mais pela integridade física de seus funcionários.