Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Confira o editorial deste sábado/domingo: "As castas do serviço público"

Confira o editorial deste sábado/domingo: "As castas do serviço público"

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Não é nenhum pouco lógico que um servidor aposentado, que merecidamente já não precisa trabalhar, receba um adicional por produtividade.

O ano de 2019 vai ficar marcado como um período de grandes transformações na forma com que o Estado brasileiro se organiza e nas opções que o poder público fez para atingir segmentos no que se refere à proteção social. O grande fator que proporciona tais transformações são as reformas e, como o próprio nome já afirma, a situação muda bastante, quase que por completo.

Durante o período em que a reforma da Previdência tramitou no Congresso Nacional, muito se falou em sacrifícios. Foi certamente a palavra mais utilizada por deputados e senadores neste ano. Faz todo o sentido: o tema é extremamente sensível e mudá-lo gera impopularidade em alguns segmentos. 

A sociedade brasileira, porém, em sua maioria, aceitou a argumentação de que a transformação no regime de Previdência era necessária e admitiu o tal sacrifício. O grande problema depois da aprovação e promulgação de uma proposta de emenda constitucional polêmica como esta é a percepção de que o sacrifício deve ser para todos. Não se pode permitir que grupos normalmente mais privilegiados mantenham suas benesses, custeadas com os recursos públicos, até porque, é sabido que o sistema previdenciário não se sustenta. É bom enfatizar que o deficit da Previdência também é uma das argumentações utilizadas para a aprovação da reforma.

Promulgada a reforma da Previdência para o regime geral e para os servidores da União, chegou a vez de o tema ser debatido em Mato Grosso do Sul. O governador Reinaldo Azambuja enviou, no fim do mês passado, proposta de emenda constitucional nos moldes da promulgada pelo Congresso. Nos últimos dez dias, porém, temos presenciado um festival de categorias – normalmente aquelas cujos salários de seus integrantes passam de uma dezena de milhares de reais – tentando escapar das regras mais rígidas. 

Nesta edição, mostramos a que ponto chegam algumas classes de servidores públicos para ganhar mais, com os recursos bancados pelos impostos da maioria, contribuindo também para elevar o rombo da Agência Estadual de Previdência. Não é nenhum pouco lógico que um servidor aposentado, que merecidamente já não precisa trabalhar, receba um adicional por produtividade. E é exatamente isso que ocorre em Mato Grosso do Sul. O valor deste adicional se aproxima de R$ 7 mil.

Em meio à tramitação da reforma da Previdência de Mato Grosso do Sul, ainda não vimos manifestações públicas de policiais, professores e funcionários da área de saúde. A movimentação de setores da sociedade que recebem salários próximos ao teto de R$ 37,5 mil, porém, tem sido intensa. É preciso ficar muito claro que o contribuinte não concorda mais em sustentar castas do serviço público, muito menos seus privilégios.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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