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Confira o editorial desta terça-feira:
"Tragédia anunciada"

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"Tragédia anunciada"

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Já que o Consórcio Guaicurus não descarta a revisão tarifária anual nem abre mão da isenção fiscal, deveria, ao menos, garantir a segurança dos passageiros, dentro e fora dos ônibus.

O fim de semana foi marcado pela morte trágica de um rapaz de 18 anos no terminal de transporte público General Osório, em Campo Grande. As causas do acidente ainda serão investigadas, assim como seus possíveis culpados. Porém, quem faz uso do transporte público na Capital sabe que essa tragédia já era anunciada, e fazia tempo. Se houve imprudência ou não, cabe à polícia dizer, mas isso não tira do poder público e da empresa responsável pelo transporte coletivo a obrigação de garantir a segurança dos usuários.

Conforme mostra reportagem do Correio do Estado de hoje, o terminal onde aconteceu o acidente não contava com nenhum sistema de segurança para evitar que esse tipo de situação ocorresse. Também é desconhecida qual é a política de segurança da empresa em circunstâncias como esta, uma vez que a companhia optou por se calar. Já que o Consórcio Guaicurus não descarta a revisão tarifária anual nem abre mão da isenção fiscal milionária que recebe do município, o mínimo que poderia fazer em contrapartida é investir na segurança dos passageiros, dentro e fora dos ônibus. Com frequência, usuários sofrem quedas e ferimentos durante o percurso dos veículos. Em vistoria do Departamento de Fiscalização da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), foram flagrados até ônibus sem freios circulando pelas vias da Capital, colocando em risco a vida do motorista, dos passageiros e também de todos à volta. Fora dos ônibus, os riscos não diminuem. Hoje, o que se vê são terminais sem nenhum tipo de segurança.

Passageiros, vulneráveis, transformam-se em prato cheio para criminosos. Em muitos casos, a vítima pagou com a vida. Esse descaso, porém, vai além da segurança contra ação de terceiros.  A própria estrutura de terminais, que forçam passageiros a se arriscarem por entre os veículos para atravessar de uma passarela para outra, aumenta as chances de atropelamentos.

Todos esses problemas seriam minimizados drasticamente se o Consórcio Guaicurus prezasse pela segurança de seus funcionários e passageiros e se houvesse, em Campo Grande, uma agência reguladora que, de fato, cobrasse um serviço de qualidade aos usuários. Pelo contrário, a Prefeitura de Campo Grande abriu mão de R$ 10 milhões em tributos – média que deveria ser arrecadada em Imposto Sobre Serviços do consórcio – somente neste ano, livre de qualquer obrigação por parte da companhia. Essa prática de isenção fiscal não é de agora, teve início em 2013, mas foi uma das poucas vezes em que esse presentão – dado ao consórcio responsável por tantas reclamações dos usuários – foi livre de algum tipo de contrapartida. Se antes, ao menos, o consórcio tinha de zelar pelos terminais, neste ano, nem isso.

Enquanto passageiros perdem tempo precioso para trocar de ônibus que quebrou no meio do percurso, o motorista – que já acumula mais de uma função – é multado em caso de atraso. A companhia cobra do motorista, mas está longe de dar o exemplo ou ferramentas necessárias para o cumprimento dessas metas.
Quando a prefeitura deixa de arrecadar receita substancial, o consórcio coloca à disposição do campo-grandense veículos caindo aos pedaços e terminais sem segurança aos passageiros. Paralelamente, o reajuste tarifário deve ser anunciado no próximo mês.