Forças políticas orquestram o movimento de uma “guerra surda” envolvendo Azambuja e Puccinelli, seu principal adversário político.
A grave crise política enfrentada no Brasil alcança proporções gigantescas, incontroláveis. O presidente Michel Temer corre sério risco de não permanecer no cargo. Os escândalos atingem a cúpula do Planalto, o Congresso Nacional, estados e municípios resultam na crise de representatividade da classe política, envolta na generalização decorrente das denúncias. Todos os dias, delações e gravações mostram mais um capítulo dos esquemas de corrupção. A situação conturbada agrava a instabilidade econômica, dificultando ainda mais as chances de sair da recessão. Mato Grosso do Sul enfrenta, nesse contexto, também cenário de incertezas diante das inquietantes suspeitas envolvendo o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB) e integrantes de sua equipe.
A mais recente foi noticiada com destaque pelo Fantástico, da Rede Globo, na noite de domingo. Os empresários Benilson Tangerino e José Alberto Berger - donos, respectivamente, de frigorífico e curtume - disseram que precisaram pagar propina a integrantes da cúpula do governo do Estado para manter as indústrias funcionando. Eles denunciam o envolvimento do governador Reinaldo Azambuja e do ex-secretário da Casa Civil, Sérgio de Paula. Berger alega ter pago duas parcelas de R$ 250 mil, mas as extorsões continuaram. Então, decidiu gravar a entrega de R$ 30 mil em propina a José Ricardo Guitti, o Polaco, que seria um mensageiro de Sérgio de Paula. As denúncias, certamente, deixaram todos os sul-mato-grossenses aflitos. Porém, as gravações não são suficientes como provas do envolvimento de Azambuja nem do então secretário. São frágeis, sem a materialidade esperada.
O governador negou qualquer envolvimento no esquema e disse que os empresários são picaretas sonegadores, que emitem notas frias para tentar se livrar do pagamento de tributos. A matéria ganha destaque nacional justamente depois da delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, que citam Azambuja também como beneficiário de propina em troca de incentivos fiscais. Por conta disso, ele já enfrenta cinco pedidos de impeachment que serão apreciados pela Assembleia Legislativa. Na mesma denúncia, são citados os ex-governadores Zeca do PT e André Puccinelli.
Os rumores de denúncias envolvendo Sérgio de Paula surgiram ainda no começo do ano, quando ele foi afastado da Casa Civil. À época, o governo alegou apenas reestruturação. Mas, curiosamente, o vídeo volta à tona justamente neste período conturbado depois das novas acusações da JBS. Forças políticas orquestram o movimento de uma “guerra surda” envolvendo Azambuja e Puccinelli, considerado seu principal adversário político, desgastado politicamente pelas acusações de corrupção na Lama Asfáltica e, mais recentemente, na Lava Jato.
Um dos empresários denunciantes, inclusive, sempre teve ligações próximas ao ex-governador. Nesse duelo de gigantes, dificilmente teremos um vitorioso. Os dois sairão feridos. Lamenta-se que a população também saia perdendo em virtude dos impactos econômicos com a instabilidade no mercado. O momento exige apuração rigorosa dos supostos crimes, ajuste na política de incentivos para dirimir dúvidas e esforços para evitar queda ainda maior na arrecadação.