O ex-vereador terá à disposição, por um mês de trabalho, dinheiro que a grande maioria dos trabalhadores levaria uma década para conseguir.
Atual subsecretário de Direitos Humanos, Ademar Vieira Júnior, o Coringa (PSD), terá em mãos dinheiro que, para muitos, só é possível em sonhos ou até mesmo devaneios na fila para jogos da loteria. Por um único mês de trabalho como deputado federal, o ex-vereador terá em mãos uma verba somada de mais de R$ 107 mil. Para a maioria esmagadora da população assalariada, esse montante de dinheiro só seria conquistado em uma década de trabalho – em alguns casos, nem isso. Coringa assume a vaga deixada pelo deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM) – que tomará posse como ministro da Saúde no governo de Jair Bolsonaro –, a um custo de R$ 3,5 mil por dia, aproximadamente, em um período que, para agravar a situação, a Câmara de Deputados está de recesso, como mostrou reportagem de ontem publicada pelo Correio do Estado. Coringa é o primeiro suplente de Mandetta. A posse dele será no dia 1º de janeiro, porém, como a legislatura dos cargos eleitos em 2014 termina em 31 de janeiro, ele permanecerá um único mês como deputado. Por isso, é essencial que Coringa tenha o mínimo de zelo com a cadeira que ocupará e, principalmente, com o dinheiro público.
É vergonhoso para um país como o Brasil, em que muitas famílias não tiveram o que comer neste Natal, ver tamanhas regalias para a classe política. O abismo entre a realidade do povo e o rendimento mensal de boa parte dos políticos revolta. Coringa, por exemplo, tem à disposição assegurados R$ 33,7 mil de salário; o dobro do salário com auxílio-mudança, ou seja, mais R$ 33,7 mil e, ainda, acesso a uma cota parlamentar de R$ 40,7 mil para gastos variados. Nos dois primeiros casos, o pagamento é automático, salário e auxílio-moraria, e só não é feito caso o parlamentar manifeste-se contrário.
Já na situação da cota parlamentar, como passagens, viagens, material de escritório, telefonia etc, os recursos são pagos conforme apresentação de notas, o que não deixa de ser volume expressivo. A revolta tem fundamento, quando, mesmo somando os ganhos de toda uma família, não se chega a esse valor em um ano de trabalho e não há auxílio algum para ajudá-los com as contas de água, luz, telefone e com a saúde. Pelo contrário, essas só tendem a crescer.
Recentemente o Correio do Estado publicou matéria sobre o aumento salarial dos vereadores de Campo Grande e o prejuízo que estes causarão aos cofres públicos municipais. Pode ser legal, como se defendem nestes casos, mas é imoral. E continuará sendo imoral enquanto houver uma família que tenha de morar na rua por não ter dinheiro para pagar o aluguel e o deputado receber R$ 33 mil de auxílio-mudança.
Espera-se que, por respeito à população, Coringa doe esse recurso para alguma instituição carente. Esta aliás deveria ser uma postura adotada com maior frequência. Assim como não há nada que impeça o reajuste nem essas cotas, uma vez que estão previstas em leis, nada impossibilita também que o parlamentar abra mão do recurso. Trata-se de bom senso, que também será necessário ao ex-vereador para a nomeação de pessoas para um trabalho de 30 dias.
Um deputado federal pode nomear até 25 pessoas por gabinete, com salários que vão de R$ 1 mil a R$ 12 mil. Coringa já anunciou que vai nomear uma equipe, só não deu mais detalhes.