Só quem já dependeu de um atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sabe do calvário que é para conseguir uma consulta ou cirurgia. Transformados em números, pacientes são obrigados a esperar por mais de meia década por atendimento em Mato Grosso do Sul.
Reportagem publicada na edição de ontem, apontou que, em alguns casos, o tempo de espera para uma cirurgia geral pode chegar a 2.555 dias (sete anos). Atualmente, são mais de 4,8 mil nomes na fila de espera, como apontou levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU), indicando a falta de eficiência na gestão como um dos agravantes desse caos.
Os problemas na Central de Regulação são tamanhos que há casos em que não se sabe se o paciente já conseguiu pagar pelo atendimento ou se até mesmo morreu durante o período de espera; análise presente no próprio relatório:
“Pode ser que o número de pacientes em fila de espera esteja superestimado, já que, muitas vezes, aquele paciente que aguardava uma consulta especializada, pode ter sido encaminhado para atendimento em urgência hospitalar, em virtude de uma piora no seu quadro clínico. Ou pode ter optado por realizar o seu tratamento por meios próprios e, numa situação extrema, pode até mesmo ter vindo a óbito”.
Esses números e a falta de controle evidenciam a desumanização da saúde. A rede pública passa a ignorar o fato de que estar doente impossibilita o trabalho e as atividades diárias, assim como a ausência de estrutura humilha quem depende da rede pública.
Fazer com que uma mulher de 68 anos espere por dois anos por uma cirurgia na vesícula, viaje quilômetros para conseguir passar por um médico especialista e, mesmo assim, ser informada de que sua cirurgia ficou para 2019 é desumano e, com exceção daqueles que não se curam sozinhos ou pagam para atendimento na rede particular, tudo isso ainda pode agravar a situação do paciente. Um caso que poderia ter sido curado com medicamentos, agora precisa de cirurgia e por aí vai.
Quando é no SUS, a prevenção fica só no discurso. Na prática, a remediação é o que prevalece – e custa caro. Quanto mais tempo o paciente leva para fazer um exame e constatar certa doença, mais grave fica o quadro e, consequentemente, mais caro será o tratamento.
Essa longa demora também pesa no bolso do governo e cria um efeito cascata que agrava a crise já existente no setor. Pagando mais caro pelo tratamento de pacientes que demoraram para ser atendidos, o SUS terá menos dinheiro para novos atendimentos. Logo, a fila só tende a crescer. A conta fica impossível de fechar.
Não é de hoje que o jornal Correio do Estado aborda o sucateamento da saúde pública no Estado. Faltam leitos, faltam Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e, às vezes, faltam até luvas para os profissionais de saúde. Mas não pode faltar vontade dos poderes Executivo e Legislativo em, ao menos, tentar mudar esse quadro e da população em denunciar esses casos.