Um dos poucos setores da sociedade em que muitas pessoas convergem em opinião é saúde. Quem não deseja que alguém próximo, ou mesmo um desconhecido, esteja bem? O culto à vida é o que nos aproxima e nos solidariza. É difícil encontrar alguém que não se compadeça ao ver um humano sentindo dor ou com alguma doença grave. Mesmo os que têm condições de acesso a uma boa estrutura de atendimento torcem para que os que usam a saúde pública também tenham suas dores e males findados.
Nesse universo de pessoas em que a grande maioria espera que um bom sistema de atendimento em saúde mantido pelo poder público alcance toda a população, também é importante ser realista e saber que o máximo que pode ser feito é atenuar os graves problemas já existentes. Em Campo Grande, onde a falta de leitos é algo que persiste há pelo menos cinco anos, qualquer solução passa por repensar o papel que a Santa Casa, maior hospital e mais tradicional da cidade, exerce.
Nesta edição, trouxemos uma reportagem que mostra o clima tenso na administração do hospital. Denúncias são muitas, de práticas de nepotismo, perseguição a conselheiros da Associação Beneficente de Campo Grande (entidade que mantém o hospital), comportamento incompatível com o cargo por parte de alguns dirigentes, entre outras condutas questionáveis. Tudo isso dentro de uma instituição cujo último balanço apontou receitas – a maior parte de dinheiro público – de quase R$ 300 milhões por ano.
A Santa Casa tem importância crucial não só para Campo Grande, mas para todo o Estado de Mato Grosso do Sul. É lá que são feitos os procedimentos cirúrgicos mais complexos das áreas de neurologia, ortopedia, entre outras. É preciso que esta estrutura seja bem aproveitada, e, quando falamos em bom aproveitamento, lembramos que o repasse de verbas públicas ao hospital deve ser justo; nem mais, nem menos.
Ao longo dos últimos meses, o que assistimos foi a Santa Casa tentando implantar de fato sua nova unidade, a do Trauma, pedindo aumento significativo no repasse. Ocorre que, ao pedir mais dinheiro, a desativação do andar que antigamente era dedicado a esse tipo de especialidade não era mencionada.
Enquanto isso, a Santa Casa, que teria um papel central para resolver o problema da falta de leitos em Campo Grande, mantém seu atendimento como está. Ela é a ponta de um processo em que na base estão as filas por atendimento em postos de saúde e pacientes sendo internados em leitos improvisados de unidades 24 horas.
É preciso sanar os problemas administrativos da Santa Casa para melhorar a saúde da população da Capital e de Mato Grosso do Sul.