Absurdo que se completa com a atitude do Governo em delegar os esclarecimentos acerca do escândalo para o próprio suspeito.
Indigna a demora e a reação desproporcional do Governo Reinaldo Azambuja diante das graves denúncias de corrupção envolvendo a cúpula do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran/MS). O órgão completa hoje quatro dias sem comando, desde a prisão dos diretores. Eles foram colocados em liberdade poucas horas depois da Operação Antivírus, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mas estão estavam impedidos de reassumir seus cargos.
Ontem, finalmente, veio a manifestação do Governo: o próprio investigado, Gerson Claro anunciou em coletiva seu pedido para deixar o cargo de diretor-presidente junto com os outros quatro diretores envolvidos. Incomoda a ausência de Azambuja, que precisava mostrar firmeza no combate a irregularidades e desvios com dinheiro público. A opção foi dar voz ao suspeito, negligenciando os dados coletados que embasam o inquérito, como se não houvesse motivos para desconfiança ou para aumentar o rigor no controle financeiro do departamento responsável por arrecadação milionária.
Silêncio total sobre o contrato desnecessário de R$ 6 milhões (que permanece em vigor) e sobre os vários outros formalizados com as investigadas. A gestão estadual demonstra estar completamente sem rumo com os desgastes sucessivos. Mal terminaram as tentativas de explicações sobre o escândalo do esquema de propina revelado na delação do JBS, surge novo terremoto para abalar a credibilidade do Governo. Aliás, importante destacar neste aspecto como a demora tem sido problema recorrente. Quase três meses se passaram desde que o empresário Wesley Batista denunciou, em delação premiada, que repassava dinheiro em troca de acordos de incentivos fiscais para redução de ICMS, irregularidade iniciada ainda na gestão de Zeca do PT e, segundo ele, mantida nos mesmos moldes até hoje.
Já há confirmação, que consta em depoimento dos donos da JBS, que as exigências feitas nos Tares (Termos de Acordo de Regime Especial) foram descumpridas. Fatos que estão sendo confirmados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa. Investimentos não foram feitos e, consequentemente, os empregos gerados ficaram aquém da quantidade pactuada pela gestão estadual. No entanto, já há até confissão dos donos da empresa de grande parte dessas irregularidades. O fato, por si só, já confirma a omissão ou negligência do Governo do Estado e não promover a correta fiscalização dos acordos. Agora, o próximo passo é apurar se houve cumplicidade.
Infelizmente, os resultados são lentos mesmo diante de casos extremamente graves. Comodismo, conivência ou desprezo às leis. Os contratos milionários com empresas de informática permanecem imunes às investigações. O Tribunal de Contas do Estado também foi alvo de mandado de busca e apreensão, com documentos apreendidos no gabinete do diretor Parajara Moraes Alves Júnior. Mas, permanece o silêncio em relação a qualquer medida relacionada ao funcionário ou ao contrato com a Pirâmide, também investigada.
Tem-se a sensação de completo desgoverno e falta de controle. Absurdo que se completa com a atitude do Governo em delegar os esclarecimentos acerca do escândalo para o próprio suspeito.