Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

A+ A-

Confira o editorial desta sexta-feira:
"Benefício de poucos"

Confira o editorial desta sexta-feira:
"Benefício de poucos"

Continue lendo...

Com preços inacessíveis para boa parte da população e com serviço de qualidade questionável, os planos de saúde perdem cada vez mais consumidores.

Cuidar da saúde tem se tornado cada vez mais difícil e caro no Brasil. Para fugir do atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e de todos os seus problemas, uma das alternativas é a adoção de planos de saúde. Encontrar um bom plano, no entanto, é maratona que requer conhecimento, paciência e renda extra, sonho distante de boa parte da população. Com aumentos exagerados e uma das piores crises econômicas da história do País, muitas famílias tiveram de fazer uma escolha: aqueles que ainda tinham emprego, precisaram optar entre manter a comida na mesa ou o plano de saúde. E, como mostra reportagem da edição de hoje do Correio do Estado, a segunda opção foi a escolhida.

Embora esteja na lista de desejos de 74% da população, o número de brasileiros com acesso aos planos está encolhendo a cada dia. Nos últimos três anos, apontou levantamento da Agência Nacional de Saúde (ANS), três milhões de brasileiros deixaram de pagar por planos de saúde. Somente em 2016, a evasão foi de 1,6 milhão. Volume que, diferentemente da regra de oferta e procura, não refletiu na redução de preços para aqueles que ainda tentam ou desejam pagar pelo serviço. Pelo contrário, os casos de aumentos abusivos são comuns e tendem a crescer, momento em que fica claro que a agência que deveria defender a população opta pelo lado das empresas.

O exemplo mais recente foi a resolução da ANS com novas regras para a cobrança de coparticipação e de franquias em planos de saúde. Nela, os pacientes poderiam pagar até 40% no caso de haver cobranças da coparticipação em cima do valor de cada procedimento realizado. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) teve de entrar em campo e conseguiu, por meio de liminar, derrubar o reajuste abusivo, em decisão assinada pela presidente do STF, Cármen Lúcia. A ministra passou forte recado para a agência e para gestoras dos planos de saúde ao lembrar que “saúde não é mercadoria”, mensagem que se aplica perfeitamente à situação da saúde de Campo Grande.

A prova de que o plano de saúde tornou-se um negócio está na luta que o paciente tem para conseguir serviços contratados. Mesmo desembolsando o que parte considerável da população ganha por mês, o paciente tem de recorrer à Justiça para conseguir uma cirurgia ou até mesmo um exame de maior complexidade. Ou seja, nem pagando, o brasileiro está seguro de que terá um plano de qualidade, fato que também contribui para essa evasão e, consequentemente, sobrecarrega a rede pública de saúde.

As pessoas não deixam de adoecer só porque perderam seus planos de saúde. Pelo contrário, em alguns casos, essa desistência (forçada) ocorre no período em que mais se precisa, e o jeito é recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS), que já sobrevive a duras penas, seja por falta de recursos financeiros ou por falta 
de gestão de qualidade. Perder em valores para ganhar em número de contratantes seria uma das alternativas possíveis, porém, descartada categoricamente pelas operadoras. Por isso, 
é preciso que a ANS cumpra o seu papel, que é de fiscalizar e garantir que o preço cobrado 
da população seja coerente com o serviço oferecido e que tudo o que for contratado seja entregue ao cliente.