Embora importante, não é só a calçada que precisa ser reformulada. Esse projeto tem de ser abraçado por todos.
Obstáculos não faltam para quem deseja montar seu próprio negócio no centro de Campo Grande. Desde o valor dos aluguéis, a independência cada vez maior dos bairros e, principalmente, o aspecto de abandono da área central. Há muito tempo, o Correio do Estado vem denunciando a sujeira, a pichação e a falta de segurança que impactam diretamente a vida e o bolso dos lojistas da região. O resultado é o êxodo das lojas, seja para a informalidade, para a internet ou para os bairros, como mostra reportagem desta edição. São mais de 200 lojas fechadas no centro de Campo Grande, o que aumentou mais o aspecto de abandono no coração da Capital.
Não é possível falar do esvaziamento do Centro sem levar em consideração a crise econômica que assolou o País nos últimos anos e que ainda tem reflexos na vida dos consumidores. O campo-grandense viu, no auge da recessão, seu custo de vida disparar e as vagas de emprego desaparecerem, ao mesmo tempo em que as dívidas aumentaram. Não teve outra saída a não ser cortar todos os gastos, e até os hábitos alimentares foram alterados. Agora, o comércio vive período de estagnação. Embora longe de ser otimista, ainda é melhor que retração.
Para tentar reverter esse quadro e, consequentemente, injetar uma boa dose de otimismo no setor tão castigado, a Prefeitura Municipal de Campo Grande retomou, neste ano, projeto de modernização da área central. No Reviva Campo Grande, propósito antigo, estão depositadas todas as fichas de recuperação do Centro. O projeto é audacioso e, se cumprir de fato com o que prometeu, até poderá fazer com que a população se esqueça dos transtornos hoje gerados pela obra, que interditou a Rua 14 de Julho, uma das principais vias de acesso da cidade.
No entanto, um Reviva sozinho não faz milagre. Embora importante, não é só a calçada da rua que precisa ser reformulada. Esse projeto precisa ser abraçado por todos para dar certo – principalmente pelo setor empresarial. A donos de imóveis, cabe o desafio de ajustar o aluguel de acordo com a realidade do mercado e com as benfeitorias existentes no prédio. Um imóvel fechado é sinônimo de prejuízo para o locatário. Mesmo assim, são vários nessa situação, por conta do movimento dos empresários de deixar o Centro em busca de imóveis com preços mais acessíveis. Além disso, investir no imóvel também é essencial. Ao empresariado, ficará o desafio de acompanhar as mudanças de mercado. Hoje, o perfil do consumidor está mudando e é preciso ofertar mais do que ele realmente precisa, ir além do produto buscado. Caso contrário, a 14 de Julho corre o risco de se tornar um grande ponto de visitação, mas não de compras.
A mudança tem de ser além de canos e fios, e os trabalhos, além da obra. Concluir o projeto arquitetônico é só uma das fases. Também é preciso colocar na lista de prioridades para ressuscitar o centro de Campo Grande medidas como o aumento da segurança e a solução para a falta de vagas de estacionamento, cuja resposta também pode estar na iniciativa privada. É preciso unir forças para não deixar o Centro morrer.