Com tantas novas atribuições típicas de policiais para se fazer, os guardas municipais sumiram das praças públicas de Campo Grande
O clamor da sociedade por mais segurança pública é latente. Ele vem de todas as classes sociais, dos mais desfavorecidos aos mais abastados, e está presente em todos os lugares. Está nas ruas, onde a criminalidade ocorre, mas também está na imprensa, nas redes sociais, e em organismos da sociedade civil, como igrejas, associações e escolas. Mesmo sendo um desejo um tanto paradoxal, todos querem mais ordem, para obter mais segurança e, assim, usufruir da liberdade.
E é na zona urbana, onde a vida acontece, que este clamor por segurança é mais presente. É dentro da cidade onde as interações sociais são maiores, e é nela, consequentemente, em que ocorrem mais assaltos, furtos, roubos, homicídios e atos de vandalismo. Desde a criação das guardas municipais, há algumas décadas, começou a consolidar-se a redistribuição do dever de oferecer segurança pública, (até hoje) mais concentrado nos estados e na União. Às guardas civis coube o papel de proteger o patrimônio público, atribuição que não deixa de ser uma forma de se fazer cumprir a ordem, pois o respeito ao que pertence a todos, como praças, escolas, creches, postos de saúde, terminais de transporte coletivo urbano e canteiros de avenidas é o primeiro passo para um bom convívio entre os cidadãos.
Desde a década passada, especialmente por causa do aumento da demanda no setor de segurança pública nos grandes centros urbanos, ganhou força no ordenamento jurídico (motivado por clamor de alguns setores da sociedade) a diversificação das atribuições das guardas. Em Campo Grande este movimento consolidou-se nesta década, sobretudo nos últimos quatro anos. Desde então, a Guarda Civil Municipal ganhou várias novas atribuições, além da originária, que é a preservação do patrimônio.
Os guardas viraram agentes de trânsito, fiscais do meio ambiente e da correta aplicação dos códigos de postura urbana, passaram a prender pequenos traficantes de droga e a fazer rondas constantes - principalmente em áreas de grande aglomeração. Para dar conta de todas estas novas atribuições, os guardas municipais se armaram. No mês passado, quase 200 concluíram curso em que aprenderam a manusear, entre outras armas, escopetas de calibre 12 - armamento conhecido por sua letalidade e poder de destruição. A pergunta que fica é se não estaria havendo um exagero nesta transformação da guarda civil em uma tropa?
Parte da resposta pode ser tirada de reportagem publicada no último sábado por este jornal. Com tantas novas atribuições típicas de policiais para se fazer, os guardas municipais sumiram das praças públicas de Campo Grande, como por exemplo, as centrais (e tradicionais) Ary Coelho e do Rádio Clube. São 1,1 mil servidores da instituição no município, mas só pouco mais da metade ainda trabalha protegendo o patrimônio público. Os outros? Certamente estão desempenhando funções diversas da atribuição originária da instituição.