É preciso responsabilidade para que o calendário não seja determinado pelas fases burocráticas, evitando a repetição de prejuízos.
Todos os anos, Mato Grosso do Sul passa pelo mesmo “fenômeno climático”, com possibilidade de pequenas alterações: estiagem que se estende do fim de junho até meados do mês de setembro; início do período de chuvas mais frequentes e intensas de outubro até fevereiro do ano seguinte.
Essas características do tempo servem como parâmetro para várias atividades, na agropecuária, por exemplo. Deveriam, também, nortear os prazos para execução de obras. Mas, contraditoriamente, o poder público ainda não organizou devidamente seu planejamento e pretende iniciar intervenções justamente no período de precipitações mais fortes.
Ironicamente, uma dessas ações é prevista para a margem de córrego, em um trabalho que ajudará a evitar novos alagamentos. Há grave risco de desperdício de dinheiro público, caso os trabalhos tenham de ser refeitos.
A revitalização da margem do Rio Anhanduí, na Avenida Ernesto Geisel, deve começar em dezembro, conforme cronograma divulgado pela Secretaria de Infraestrutura. O prazo contempla a previsão da liberação de recursos e a estimativa para término da licitação. Não poderia, porém, omitir os perigos de iniciar o trabalho no período de chuva.
Neste caso, parece que lições não foram aprendidas. A obra está paralisada há mais de cinco anos e, infelizmente, parte dos trabalhos iniciais que chegaram a ser executados foi “arrastada” pela enxurrada.
Obviamente, essa verba jamais foi recuperada. O projeto teve de ser refeito, implicando em novos gastos, em decorrência da paralisação da obra durante a gestão de Alcides Bernal. Agora, o investimento será de R$ 57,7 milhões, mas houve redução da área a ser revitalizada em relação ao trecho que havia sido idealizado.
A intervenção, dividida em três lotes, estende-se da Rua Santa Adélia até a Rua Aquário. Esse foi o preço da estagnação e das perdas por falta de organização dos gestores.
O histórico reforça a necessidade de preocupação com o início das obras coincidindo com o período de chuvas. Por mais que apareça a justificativa de que a responsabilidade pela execução será da empreiteira contratada, já acompanhamos que esse “acordo” sofre resistências ao ser colocado em prática.
As empresas dificilmente assumem o prejuízo e, assim, acompanhamos as obras públicas sempre marcadas de série de adendos e prorrogações, que aumentam consideravelmente custos e prazos.
A definição sobre o que será feito nessa época deve ser analisada de forma responsável, limitando-se ao que será imprescindível para evitar casos de desmoronamento, pois hoje há evidentes riscos aos moradores.
A obra do parque linear do Bálsamo, que prevê pavimentação de ruas e duplicação da Av. Rita Vieira, também foi interrompida e a previsão da prefeitura é retomá-la em novembro.
Há, sem dúvida, urgência em destravar obras aguardadas há anos pela população, que se deterioram na mesma proporção do descaso de gestores que abandonaram os projetos. É preciso, porém, responsabilidade para que o calendário não seja determinado pelas fases burocráticas, evitando a repetição de prejuízos. Depois, não adianta tentar culpar os “imprevistos”.