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Confira o editorial desta segunda-feira: "Agonia permanente"

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O grave dano ambiental no Rio Taquari estende-se há décadas sem que qualquer ação efetiva e de resultados práticos tenha sido executada.  

A ocupação humana é marcada pelo descontrole e irresponsabilidade em se mensurar as consequências para o meio ambiente. O assoreamento do Rio Taquari é apenas um dos exemplos dessa danosa  linha de ação histórica.  Desde a década de 1970, com expansão da produção agrícola, o alerta para a situação na região foi ligado. Com a remoção de matas e implantação de pastagens, o rio perdeu seu curso por conta do assoreamento no leito. Os resultados são vistos há décadas e, hoje, a solução, muitas vezes, é somente remediar o mal feito. Porém, com fiscalização precária, nem esse objetivo está sendo alcançado.

Em agosto de 2015, o Correio do Estado denunciou o arrombamento da margem esquerda do Rio Taquari, o Corixão, um dos quatro veios de vazantes da localidade. Dezenas de fazendas foram inundadas na região de Nhecolândia, o que aconteceu em período de poucas chuvas. Na tentativa de proteger suas terras, produtores rurais erguem barricadas com areia e troncos de árvores para impedir o avanço das águas, formando diques de contenção altamente prejudiciais.

Em 2016, a resposta do governo para a lista de problemas foi a criação de força-tarefa, formada pela secretaria estadual de Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasul) e Agência Nacional das Águas (ANA). O grupo  pretendia conter os focos de inundação, combater o desmatamento de florestas e auxiliar no planejamento ambiental e econômico nas propriedades. 

As ações, em grande parte, ficaram apenas no campo das ideias. Com efetivo reduzido e falta de política coordenada entre os poderes, é tarefa praticamente impossível combater a ampliação da degradação do Taquari, fato reconhecido pelos próprios envolvidos no programa, conforme reportagem publicada nesta edição. Trata-se de extensa área de 800 quilômetros, começando em Mato Grosso, percorrendo todo o Mato Grosso do Sul até chegar ao Rio Paraguai. Os problemas começam desde a nascente, no Alto Taquari (MT), em que há plantações no entorno. Aqui no Estado, a grande sedimentação, principalmente quando recebe as águas do Rio Coxim, depositando-se no leito do rio. Permanentemente, sabe-se que foram perdidos 1,5 milhão de hectares na sub-região do Paiaguás (nordeste de Corumbá) nos últimos 40 anos.

O grave dano ambiental no Rio Taquari estende-se há décadas sem que qualquer ação efetiva e de resultados práticos tenha sido executada. Em 2013, uma ação judicial determinou o bloqueio de recursos dos governos federal e estadual até que medidas fossem tomadas contra o assoreamento, mas nada foi feito. O plano anunciado pelo Presidente da República, Michel Temer, em Miranda, em outubro do ano passado, ainda está em fase de elaboração e somente em março deve ser lançado o edital para selecionar as instituições que farão os projetos de recuperação do rio.  Enquanto isso, sem vazão adequada, as águas avançam e muitos produtores pioram a situação ao tentar coibir os arrombamentos. Estamos no período das cheias, que estende-se até março, um indicativo do risco eminente de cheia no Pantanal. Como sempre, os órgãos públicos vão se atentar tardiamente para as consequências. E o ciclo se repete