O que o poder público deve fazer é agir com sabedoria. Não se deve impedir que a sociedade evolua e caminhe de forma independente.
Quem era jovem ou adulto no fim do século passado já imaginava que no século 21 a sociedade vivenciaria grandes transformações tecnológicas. De fato, sobretudo a partir do início desta segunda década, as maneiras de se prestar serviços e as formas de se relacionar ou se locomover tiveram avanços que impressionariam qualquer pessoa que fosse trazida em uma máquina do tempo daquela época para os dias atuais.
Nesta edição, por exemplo, trataremos de apenas dois dos serviços essenciais a qualquer cidadão que estão passando por transformações. O primeiro deles é o de transporte por aplicativos. O prefeito de Campo Grande, Marcos Trad, publicou ontem lei que, ao mesmo tempo que burocratiza o acesso de motoristas interessados em utilizar seus veículos para transportar as pessoas, intermediadas por aplicativos, em troca de dinheiro, também estabelece punições às empresas e motoristas que prejudicarem o usuário.
Na outra reportagem, mostramos um caminho inverso. O sistema notarial e de registros de Mato Grosso do Sul deve passar, neste fim de ano, por uma grande transformação. O objetivo é tornar este tipo de serviço mais acessível a todos – aumentando a formalização – e, por outro lado, reduzir a burocracia. É um marco para a categoria, em primeiro lugar, porque os cartórios certamente estão entre os setores da sociedade que mais resistem às mudanças que tornam o cotidiano mais prático.
Atualmente, por exemplo, serviços bancários já podem ser feitos totalmente por meio de aplicativos, uma vez que há bancos que nem mesmo agência têm. Até mesmo o perfil do relacionamento está mudando. As pessoas não precisam mais ir às ruas para conhecer outras: podem fazer isso por meio das redes sociais e por softwares em dispositivos eletrônicos.
É neste ponto que a as restrições impostas aos motoristas de aplicativos devem ser analisadas com maior moderação. É fato que o transporte por meio destes facilitadores digitais tornou a mobilidade urbana mais fácil e abriu oportunidades a pessoas que precisavam de trabalho, por exemplo. Mas também é notório que esta nova modalidade de transporte precisa de ajustes, sobretudo no que diz respeito à vulnerabilidade de motoristas a assaltos e a eventuais contratempos que passageiros e passageiras podem ter com os motoristas – como golpes e até mesmo assédio.
O que o poder público deve fazer é agir com sabedoria. Não se deve impedir que a sociedade evolua e caminhe de forma independente, mas também é preciso estabelecer parâmetros para que o convívio social seja harmônico. Equilíbrio é importantíssimo; burocracia é algo cada vez menos necessário.