É preciso intervenção urgente dos órgãos fiscalizadores para barrar esse disparate contínuo, com ampla verificação dos gastos do hospital.
A Santa Casa de Campo Grande continua a enfrentar situação de colapso constante com atrasos mensais no pagamento de funcionários, que ameaçam ou até iniciam paralisações para, só então, receberem os salários. De forma injustificada, essa displicência repete-se como forma de pressionar o poder público a liberar mais verbas e, assim, evitar que os pacientes tenham de conviver com o caos. Irresponsabilidade! Chantagem que precisa ser combatida!
Ontem, foi a vez dos médicos decidirem interromper os trabalhos porque não haviam recebido. No afogadilho, os salários saíram, mas as horas extras estão atrasadas há cinco meses. Dias antes, situação semelhante repetiu-se com os enfermeiros. Impressiona que essas incoerências continuem mesmo depois de a prefeitura ter antecipado os pagamentos relativos ao repasse do Ministério da Saúde, utilizando verba própria, como forma de garantir que os funcionários recebam até o quinto dia útil.
No mínimo, ocorre grave problema de gestão, algo que motivou o Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT/MS) a pedir o bloqueio de bens da Santa Casa e também do presidente da instituição, Esacheu Cipriano Nascimento. O pedido abordou pontos importantes acerca dos irresponsáveis atrasos. No processo, aponta-se para o “caráter doloso da retenção salarial”, diante da inverdade divulgada para justificar atrasos de salários. Nascimento, em seus discursos, tenta responsabilizar a prefeitura, alegando que os pagamentos não estão em dia ou que não foram assinados acordos para ampliar os repasses.
Mesmo com a situação regularizada e com a redução dos atendimentos no pronto-socorro (que hoje só atende pacientes já encaminhados pela Central de Regulação), a direção não alterou sua conduta equivocada e até mesmo desrespeitosa com profissionais que têm direito de, ao menos, receber seu salários em dia. A saúde pública precisa ser encarada com seriedade, sendo inaceitável criar situações a fim de motivar paralisações como “moeda de troca” para angariar mais verbas. É preciso intervenção urgente dos órgãos fiscalizadores para barrar esse disparate contínuo. Inclusive, com ampla verificação dos gastos do hospital. Afinal, a dificuldade financeira parece não ter sido empecilho para a contratação de 254 pessoas em um ano, elevando em R$ 1 milhão a folha de pagamento, que hoje soma R$ 15 milhões.
Os altos salários integram um dos itens da “caixa-preta” das finanças da Santa Casa, a qual também “esconde” os dados sobre contratos com empresas terceirizadas. A aplicação dos quase R$ 100 milhões provenientes de empréstimos com a Caixa Econômica Federal é outra incógnita. Todo montante foi gasto no período de três meses – parte teria sido para repactuação da dívida, que continua a aumentar. A gestão é ineficiente.
Nascimento já fracassou no comando do Operário Futebol Clube, levando quase à falência o time, que, na época, era considerado promissor. Infelizmente, mesmo com esse despreparo comprovado, voltou a exercer função administrativa. Agora, coloca em risco o gerenciamento do maior hospital de Mato Grosso do Sul, cometendo sequência de falhas e exigindo quantidade de dinheiro do poder público que nunca parece suficiente.