Apagada da memória de muitos, a sífilis foi crescendo até se transformar em uma epidemia.
Nos últimos anos, o brasileiro assistiu à volta intensa de doenças que até então eram consideradas – quando não erradicadas –, pelo menos, controladas. O caso mais recente aconteceu nesta semana, quando até uma suspeita de peste bubônica foi notificada em São Gonçalo (RJ) – por sorte, descartada pelas autoridades de Saúde após exames. O mesmo não é possível dizer do sarampo, da poliomielite e da rubéola, dos quais o Brasil estava livre dos riscos, mas que voltaram a rondar e, em algumas regiões, geraram surtos. O motivo da reintrodução, para alguns, pode estar relacionado com o aumento da imigração para o País. Porém, o fato é que brasileiros são os maiores culpados por essa volta ao passado.
Pesquisas apontaram que, no País, a cobertura vacinal, principalmente de crianças, caiu para 50%. Ou seja, só metade da população estava com a carteira de vacinação em dia e, consequentemente, segura contra essas doenças citadas acima. Foram necessárias campanhas para que os responsáveis vacinassem os filhos, chegando a ponto de o governo ter de ameaçar multar aqueles que não zelassem pelo bem-estar dos filhos. A questão da vacina foi uma das lutas que tiveram de ser travadas contra o desserviço das notícias falsas disseminadas em enxurradas pelas redes sociais. Quando o governo precisa condicionar, em lei, a matrícula de uma criança à sua carteira de vacinação atualizada – embora esta esteja em falta nos postos de saúde –, sabemos que há algo de muito errado acontecendo.
E o relaxamento em torno da própria saúde não se restringe às vacinas. Hoje, Campo Grande vive uma epidemia de sífilis, como mostra reportagem desta edição do Correio do Estado. Sexualmente transmissível, essa doença – que pode matar, é importante lembrar – nunca chegou a desaparecer no Brasil. Pelo contrário. Ela aproveitou que só era lembrada em biografias de políticos, artistas e jogadores para crescer.
Uma das causas para esse retrocesso na luta contra as DSTs é a falta de cuidados com o próprio corpo. Como “doença do passado” e com o avanço da medicina – hoje há tratamento –, a sífilis deixou de ser vista como ameaça. Foi no descaso com os preservativos – principalmente entre os jovens – que ela cresceu de forma substancial e vai continuar crescendo, se a população não retomar os cuidados do passado. E assim, como o caso da obrigação das vacinas, não adianta cobrar só do governo.
A responsabilidade do sistema de saúde é colocar à disposição meios de prevenir as doenças (preservativos), testes para detectá-la e atendimento imediato, em caso de confirmação. Cabe a cada um decidir se fará ou não uso desses serviços. Essa decisão pode até ser individual, mas o impacto gerado por ela afeta outras pessoas.