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Confira o editorial desta quinta-feira: "A mágica da Santa Casa"

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Se, por um lado, a instituição vive reclamando da falta de recursos e só encolhe o atendimento pelo SUS, por outro, a estrutura da rede particular só cresce.

A Santa Casa de Campo Grande está ficando conhecida pela capacidade de fazer nascer investimentos mesmo alegando falta de recursos. Se, por um lado, a instituição vive reclamando da falta de recursos financeiros e, por conta dessa necessidade de mais verba, reduz cada vez mais o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por outro, a estrutura destinada a pacientes particulares ou conveniados só cresce. Exemplo recente dessa discrepância entre discurso e realidade é a inauguração do “Day Clinic”, espaço com três salas de cirurgia, três leitos pré-operatórios e quatro leitos de recuperação, porém, destinado somente a pacientes da rede particular ou conveniados. A inauguração ocorreu em junho deste ano. 

Antes disso, no mês de março, também havia sido inaugurado o Hospital do Trauma, este, sim, projetado para atender pacientes da rede pública, mas cujo espaço só está pegando poeira. Foram 20 anos de espera por essa obra, orçada inicialmente em R$ 8,6 milhões; contudo, mesmo depois de cortada a fita, ainda não entrou em operação. Para atender os pacientes da rede pública, a Associação Beneficente de Campo Grande (ABCG) quer um aumento de R$ 10 milhões no repasse mensal, já de R$ 20,3 milhões, sem deixar claro onde e como esse recurso extra será aplicado. A falta de transparência tem sido outra marca desta gestão. As contas da Santa Casa são uma caixa-preta que não foi aberta nem mesmo para aqueles que custeiam ou contribuem para a manutenção da administração, ou seja, o poder público e seus associados. Esse silêncio aumenta ainda mais as incertezas. 

Mas as discrepâncias não param por aí. Reportagem de hoje do Correio do Estado mostra que, enquanto a Unidade do Trauma permanece fechada e sem previsão de funcionamento, está em construção um novo centro administrativo da Santa Casa. Mesmo com o silêncio da instituição, que preferiu não dar detalhes sobre o investimento ou o projeto, é visível que uma obra daquele porte consumirá montante considerável de recursos – dinheiro que poderia ser usado para equipar o Hospital do Trauma ou até mesmo socorrer no custeio da instituição. A alegação é de que, com o novo centro, serão liberados mais leitos. Gerar mais leitos é importante, desde que estes sejam abertos à população. Inaugurar e manter fechado, como o Hospital do Trauma, corresponde a um desrespeito com a população, que merece respostas. Essa cortina de fumaça em torno da Santa Casa, no entanto, parece ter “cegado” até mesmo o Ministério Público Estadual, que pouco parece fazer para tentar sanar essas dúvidas. 

O único fato certo é de que, com essas medidas que vêm sendo adotadas por sua administração, a Santa Casa de Campo Grande caminha para cada vez mais longe do seu passado, ligado à boa vontade de famílias campo-grandenses para custear o atendimento de toda a comunidade, para se tornar uma outra coisa, um negócio. Quem pagará por isso, mais uma vez, é a população de baixa renda, que, sem dinheiro para arcar com consultas particulares ou até mesmo planos de saúde – com seus preços absurdos, como também mostra reportagem de hoje do Correio do Estado –, fica horas na fila, às vezes em maca, às vezes nem isso, aguardando atendimento médico.