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Confira o editorial desta quarta-feira: "Problemas nas duas pontas"

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A origem da violência no Rio está diretamente relacionada com organizações criminosas que também atuam em Mato Grosso do Sul.

As notícias que chegam sobre a intervenção federal no setor de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro são impactantes. Primeiramente, chamam atenção pelo fato de o Exército, depois de mais de 40 anos, voltar a comandar operações militares em zonas urbanas brasileiras. Também desperta a opinião pública por tratar-se da primeira intervenção federal assinada por um presidente da República desde a promulgação da Constituição de 1988.

Há outros detalhes sobre a operação que está sob a responsabilidade do general Braga Netto, comandante militar do Leste, que são novidades para a maioria dos brasileiros nascidos depois da década de 1980. Um dos que mais geraram repercussão na opinião pública foram os possíveis mandados coletivos de prisão e de busca e apreensão. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, já avisou que enviará à Justiça do Rio de Janeiro estes pedidos, tão logo o Congresso Nacional dê o esperado respaldo ao decreto do presidente Michel Temer (MDB).

A falência dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro motivaram tal intervenção. Basta acompanhar o noticiário para perceber que o Estado perdeu o controle para o tráfico nos morros e em bairros periféricos da capital fluminense. É aí que a realidade sul-mato-grossense entra neste contexto.

Basta analisar, ainda que rapidamente, os dados sobre apreensões de drogas e armamentos nos estados fronteiriços com países como Paraguai e Bolívia, para perceber que a origem da violência nas favelas cariocas está diretamente relacionada à organizações criminosas que agem nestas unidades da federação. Mato Grosso do Sul é uma delas.

Estamos na outra ponta da violência. Se as portas para o tráfico fecharem-se por aqui, certamente reflexos serão sentidos no Rio de Janeiro.  E isto não se trata de uma mera suposição. É uma constatação. Além dos números do Ministério da Justiça e secretarias de Segurança Pública, investigações policiais comprovam a existência destas rotas.

A violência no Rio de Janeiro é crônica, e esta situação, por si só, motiva a intervenção. O que deve ser levado em conta são ações para que esta ação militar - que deve ser temporária - não perdure. Está mais do que clara a necessidade de investimentos na segurança pública na região de fronteira. Reportagem publicada ontem demonstra que quase todo armamento e entorpecentes enviados aos morros cariocas entram em território brasileiro nas estradas sul-mato-grossenses. As mesmas organizações criminosas que agem lá agem por estas terras.

É por causa da alta demanda por drogas e armas na Região Sudeste que os presídios de Mato Grosso do Sul estão lotados de traficantes cuja origem são estes centros consumidores. A custódia destes presidiários, que foram ao Paraguai ou Bolívia buscar maconha e cocaína para suas quadrilhas, e acabaram presos em flagrante por aqui é bancada por nosso governo, que têm de dar conta de uma demanda, que ele não é o gerador.