A região fronteiriça precisa de mais policiais, infraestrutura e operações do que de reuniões que resultam em planos que nunca saem do papel.
Não é de hoje que o morador de Mato Grosso do Sul recebe notícias de que as autoridades da área de segurança pública se reúnem com representantes do governo federal à espera de verbas para o combate à criminalidade. Este discurso e esta forma de buscar soluções para os problemas crônicos da criminalidade na fronteira existe desde a época em que contrabandistas e traficantes começaram a atuar na região, ou seja, há, pelo menos, quatro décadas. O simples fato de o crime organizado continuar com forte atuação nas cidades de Mato Grosso do Sul fronteiriças com o Paraguai e a Bolívia pode ter um outro significado: o de que o poder público não tem obtido o sucesso esperado no combate a quem trafica drogas e promove o contrabando de agrotóxicos, cigarros e armamentos dos países vizinhos, utilizando o território sul-mato-grossense como corredor para que essas mercadorias cheguem a outros estados e países.
Para não irmos tão longe no tempo, podemos enfatizar que, desde a virada do milênio, em 2000, foram inúmeras as reuniões e projetos visando reduzir a criminalidade na região de fronteira. Talvez a mais emblemática delas foi quando a Polícia Federal e a Justiça Federal começaram a atuar em conjunto para sequestrar bens de traficantes. Tal prática atingiu os criminosos no bolso e só foi possível porque para ela não foram necessários investimentos.
De lá para cá, existiram inúmeras propostas – muitas ainda não passam de promessas –, como a construção de uma nova delegacia da Polícia Federal em Ponta Porã.
Também foram várias as vezes em que o governo federal prometeu aumentar o efetivo das Polícias Federal e Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul. Ainda hoje os integrantes dessas duas instituições queixam-se do baixo efetivo. Até mesmo o Exército Brasileiro, que deu início ao projeto bilionário do Sistema de Monitoramento da Fronteira (Sisfron), por causa do contingenciamento de verbas a partir de 2016, mantém a iniciativa a passos lentos.
Enquanto os planos para impedir a ação dos criminosos na fronteira não saem do papel, adivinhe quem aproveita a lentidão das autoridades? Sim, os bandidos. Mato Grosso do Sul definitivamente entrou na rota do tráfico internacional de cocaína, prova disso é a ação da Polícia Federal, que prendeu criminosos em vários estados e cumpriu mandados em Campo Grande (leia reportagem nesta edição). Se a instituição tivesse preferência pela União no investimento em pessoal e estrutura, certamente quadrilhas como a que foi combatida não teriam sequer começado a agir nesta região.