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Confira o editorial desta quarta-feira: "Guerra Perdida"

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Enquanto as fronteiras de MS estiverem abertas, não haverá presídio que comporte o número de presos por tráfico de drogas.

Mato Grosso do Sul tem pagado preço alto por ser uma das maiores rotas de tráfico de armas e drogas do País. São dezenas de veículos, rodoviários e aéreos, passando pelo Estado rumo a outras regiões do Brasil ou até mesmo mercados consumidores maiores, como países europeus. Praticamente sem apoio do governo federal, forças de segurança de Mato Grosso do Sul tentam, em vão, ao menos equilibrar essa guerra contra o tráfico. O resultado é uma população carcerária composta em sua grande maioria, 42%, de presos oriundos do tráfico de drogas. Reportagem publicada pelo Correio do Estado nesta terça-feira mostrou que, dos 16,7 mil presos mantidos em unidades penais de MS, 6,9 mil, aproximadamente, estão atrás das grades por envolvimento com o tráfico de drogas. Somente essa população carcerária representa um custo mensal de R$ 11 milhões; R$ 132 milhões ao ano, levando em consideração o preço para manter um preso no sistema prisional brasileiro. Conta que é paga pelo Estado praticamente sozinho. Como a maior parte das prisões é realizada por forças policiais estaduais, o custo desse preso fica todo para MS, conta que o governo tenta cobrar da União por meio da Justiça.

Mais grave do que esse custo, porém, é que, enquanto as fronteiras de Mato Grosso do Sul permacerem escancaradas, não haverá presídios que comportem o número de presos por tráfico no Estado e, mesmo assim, sem gerar grandes perdas efetivas ao crime organizado. Enquanto a polícia consegue interceptar um carregamento em uma rodovia de Mato Grosso do Sul, em outra, passam dois ou até mais. Sem um serviço de inteligência forte, que consiga ir além de uma das pontas dessas organizações criminosas, o Estado continuará enxugando gelo, em uma ação que servirá somente para lotar presídios, sem reduzir o tráfico de drogas.

Além de cobrar ajuda de custo para a manutenção da massa carcerária, o governo do Estado, assim como toda a bancada de Mato Grosso do Sul, deveria se unir para requerer da União medidas que ajudariam a fechar a fronteira e, com isso, reduzir a violência que assola praticamente todos os municípios sul-mato-grossense, com destaque principalmente para as cidades fronteiriças. Executivo e Legislativo precisam cobrar ações do governo federal, em vez de discursos sobre a situação da fronteira. Somente neste ano, foram pelo menos três reuniões para discutir a segurança na fronteira do Estado. Desde então, nenhum resultado prático fora anunciado, a não ser a abertura de concurso público para as polícias Federal (PF) e Rodoviária Federal (PRF), que ainda não saiu do papel. Pelo contrário, um dos programas que poderiam gerar efeitos palpáveis, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) levará mais de uma década para ser implantado, depois de ter um corte em seu orçamento de aproximadamente R$ 900 milhões ao ano. Lançado em 2010, o sistema previa investimento anual de R$ 1,2 bilhão. Com a crise, esse valor foi reduzido para R$ 300 milhões.