A tentativa dos vereadores em incluir centenas de emendas no orçamento, todas com alto custo, em ano eleitoral, é uma tentativa de se fazer campanha com dinheiro público.
A vida acontece nas cidades. Apesar de ser um clichê, muito repetido por especialistas e políticos, é nas sedes dos municípios que o foco da política brasileira estará neste ano de eleções. Como sempre, os políticos que têm mandato, sobretudo os que integram o Poder Legislativo, tentarão manter os seus postos na Câmara Municipal e lançarão mão de vários recursos para isso, inclusive, o de ser irresponsável com o erário.
É tempo de prestação de contas. É o período em que o eleitor checará se o vereador que elegeu na eleição passada, de fato honrou suas expectativas. Como - aparentemente - nunca antes a política foi passada a limpo no Brasil como nos últimos anos, são tempos de colheita. O plantio, foi feito ao longo dos últimos quatro anos.
Nesta edição, por exemplo, mostramos ato do prefeito de Campo Grande, Marcos Trad, que vetou, em um ato único, a tentativa dos parlamentares de emplacar mais de uma centena de emendas ao orçamento. A açõ dos vereadores - aparentemente - beira o desespero para mostrar que os mandatos que lhes foram confiados, tem alguma utilidade. Faltou combinar com os cofres públicos. Em primeiro lugar, em que pesem algumas causas nobres na lista de emendas vetadas, todas elas têm fins eleitoreiros. Certamente, no período de campanha, o vereador em busca de votos para se reeleger, bateria no peito e tentaria se gabar da melhoria, como se fosse ele que tivesse conseguido o novo semáforo, ou o projeto de drenagem da rua, a reforma de uma escola, ou uma academia ao ar livre. Pura cortesia com o chapéu alheio! Se isso fosse viabilizado, seria mais um instrumento de campanha, e colocaria os parlamentares detentores de mandato, em situação de desigualdade aos postulantes.
O prefeito Marcos Trad (PSD) agiu responsavelmente ao vetar as emendas ao orçamento. Em primeiro lugar, porque não há uma perspectiva de que sobrará um volume grande de recursos para obras e investimentos. Em segundo, porque é papel do Poder Executivo gerenciar as receitas e as despesas do município, e não colocar o bem-estar do cidadão e as finanças da prefeitura em risco.
Certamente, os vereadores tentarão tirar proveito da iniciativa, ainda que com o veto. É como se eles dissessem ao eleitor de sua base: “minha parte eu fiz, mas a proposta foi vetada”.
É lamentável que nos tempos atuais, muitos políticos ainda não tenham compreendido o papel deles no sistema. No caso do Poder Legislativo, por exemplo, o próprio nome que leva esta divisão do poder é imperativo: a função é, primeiramente, fazer leis e analisar projetos de lei, e também, fiscalizar o devido cumprimento delas. A função do Poder Executivo, também é explicada pelo próprio nome. Seria bom que os parlamentares fossem lembrados por cumprirem suas funções, e não por obras e ações que são de iniciativa e responsabilidade do prefeito.