A julgar pelos conflitos das décadas de 1980 e 1990, o que se teme é que a tensão no campo volte a partir deste ano. Pelos movimentos das partes envolvidas, o cenário previsto já está se concretizando.
Um dos requisitos de qualquer gestão, seja ela na vida particular, seja no setor privado ou no poder público, é o trabalho de inteligência. E quando falamos de inteligência, a palavra deve ser empregada em seu sentido mais abrangente possível, com todos os significados previstos nos dicionários: a faculdade de conhecer, compreender e apreender; a capacidade de entender e resolver novos problemas e conflitos e adaptar-se a novas situações; e também ao poder de processamento de informações e de contextualização para poder tomar atitudes.
Gestões mais inteligentes conseguem antever os desafios eos problemas e, em muitos casos, evitá-los. O serviço de informação da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Mato Grosso do Sul, por exemplo, passou a monitorar a movimentação de grupos sem-terra no interior de MS. Desde o início do mês, o Correio do Estado vem mostrando como os grupos de militantes estão se organizando, sobretudo nos municípios da região sul do Estado. Em Caarapó, por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tenta recrutar, pelo menos, mil pessoas para compor um novo acampamento em estradas rurais e nas entradas de fazendas daquele município.
Nesta edição, apresentamos ao leitor parte dos planos do grupo, que se denomina movimento social. O objetivo do MST é ambicioso: dobrar sua presença na zona rural de Mato Grosso do Sul. A julgar pelos conflitos das décadas de 1980 e 1990, o que se teme é que a tensão no campo volte a partir deste ano. Pelos movimentos das partes envolvidas, o cenário previsto já está se concretizando.
Muito mais que o monitoramento por parte da Sejusp, também se espera coerência em suas ações policiais. A pergunta que se faz no momento é sobre o foco estabelecido pela administração estadual. No início do mês, centenas de índios foram expulsos pela Polícia Militar de uma fazenda que ocupavam em Aquidauana. A operação foi conduzida sem nenhuma ordem judicial. Os policiais falaram em crimes de furto e assaltos cometidos pelos indígenas. Nenhuma evidência foi apresentada.
Enquanto isso, os sem-terra não fazem nenhuma questão de esconder seus planos. A Sejusp, aparentemente, só os monitora. Preocupação mesmo, nas polícias estaduais, está com as ocupações de fazenda por indígenas. Seria importante que as autoridades de segurança pública verificassem se existe coerência de ações na zona rural. Paz no campo é necessária.