Na sabedoria popular, é comum distribuir conselhos às pessoas para que elas não criem expectativas. O motivo é claro: elas podem gerar decepções. As chances de que os desapontamentos ocorram sempre serão grandes. A frase não serve apenas para a vida pessoal – em que ela é sempre válida e oportuna –, mas também cabe perfeitamente na administração pública.
Em Campo Grande, a expectativa mais recente, prestes a tornar-se decepção, é a promessa de reforma do terminal de passageiros do aeroporto internacional. Em reportagem publicada adiante, nesta edição, o leitor poderá constatar que a modernização do terminal – o mesmo de décadas atrás – ainda não foi adiante. Ela foi prometida no ano passado, ainda na gestão do ex-presidente da República Michel Temer.
Como se não bastasse a promessa ter sido feita pelo governo federal, a gestão da Infraero em Campo Grande, talvez por ter acreditado piamente que a reforma do terminal seria questão de tempo, tem reforçado a geração de expectativa desde o início do ano. Agora, o desapontamento com o atraso das obras também ocorre na mesma proporção que a vontade de que elas ocorram.
A Infraero bota a culpa do atraso no processo licitatório. Mas não é só isso. O grande problema é a falta de recursos do Poder Público para investir. Antes de sair do governo federal, o ex-deputado e ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Marun deixou a obra do aeroporto de Campo Grande encaminhada, recursos reservados e até um acordo, feito durante a transição de governo, para que a administração de Jair Bolsonaro desse início aos trabalhos no terminal. Tudo isso, porém, parece não ter sido suficiente.
Em Brasília, alguns gestores questionam se uma reforma do terminal de passageiros bancada exclusivamente pela Infraero não seria um presente para a empresa privada que vier a arrematá-lo no processo de privatização, agendado para ocorrer a partir do fim deste ano.
Os planos do governo federal são de leiloar, em um mesmo lote, o Aeroporto de Congonhas e os três terminais da estatal localizados em Mato Grosso do Sul: Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã – este último, sem voos comerciais há mais de uma década.
Esperamos que a obra comece o mais rápido possível e que deixe de ser mais uma promessa. A população já está farta de expectativas que não se concretizam. Quer ver as coisas acontecerem. Uma obra como esta, com investimentos de aproximadamente R$ 40 milhões, além de proporcionar o conforto e a segurança que os passageiros, aeroviários e aviadores merecem, movimenta a economia da cidade. Em uma época de dinheiro escasso, de pouca liquidez, qualquer investimento é bem-vindo.