Existe uma bela oração que se credita aos índios da América do Norte, onde eles, ao invocarem o Grande Espírito, entre tantas outras súplicas e agradecimentos, oram assim: “Eu busco a força não para ser superior aos meus irmãos, mas para ser capaz de lutar com o meu maior inimigo: eu mesmo”. Quem conhece um pouquinho da história sabe do sofrimento e injustiça sofrida pelo povo indígena na América, tendo suas terras invadidas e seu povo dizimado aos poucos. Os velhos filmes sempre nos mostraram isso e a gente até vibrava com os soldados matando os índios. O trecho dessa bonita oração me faz reportar ao atual presidente da República do Brasil, em quem votei, confiei e ainda confio, inobstante possa estar preocupado com algumas ações que provém de seu governo. É importante frisar que não se pode julgar um governo que tem apenas pouco mais de seis meses de existência e nem ignorar o caos administrativo, financeiro, político e de ordem moral que o País se encontrou mergulhado nos últimos anos. A maioria da população também pensou assim e, por isso, elegeu o novo presidente, rejeitando a volta do mesmo grupo que dilapidou os cofres públicos e estimulou a desordem moral e cívica.
A velha política, emoldurada por tudo que existe de pior, cansou e revoltou o povo e a gente se enveredou por alguém que nos propunha o fim de tudo aquilo. Muita gente acreditou na existência do salvador da pátria e, erroneamente, até criaram a figura do mito. Nunca usei essa fantasia, mas, depois de tantos anos em deixar de votar, desiludido, resolvi cravar o número 17 nas urnas na esperança de que nem tudo estava perdido. Ainda penso assim, mas não consigo entender, de fato, como pensa nosso presidente. Será que ele tem noção de que foi eleito para governar o Brasil, com o povo que tem e com os políticos que tem, com as mazelas, com as coisas boas e ruins que se construíram nesses mais de 500 anos de história brasileira? Será que o presidente sabe que o povo é tão fraco e ingênuo que não lhe dará nenhum suporte que seja forte, no caso de um atrito grave com os outros poderes da república? Será que ele consegue imaginar a grande esperança que têm todos que lhe concederam o voto, para iniciar uma grande mudança nos maus costumes da nossa política e será, também, que ele sabe que não mudará isso a ferro e fogo? Será que ele imagina o quanto criou de inimigos ao vencer as eleições de forma inédita, limpa e humilhante aos detentores do poder e oligarquia centenária?
Com todo respeito ao presidente, e com base em algumas atitudes suas, sou inclinado a pensar que ou o presidente é mal assessorado ou dotado de algumas virtudes inclinadas à arrogância ou não seja, de fato, possuidor de um QI notável para compreender onde se encontra, como chegou até lá e como proceder para corresponder aos milhões que lhe carregaram nos ombros e o levantaram ao mais alto posto da nação. Eu concordo plenamente com os índios americanos quando dizem que o meu pior inimigo sou eu mesmo. Todas as coisas erradas que fiz em minha vida foram reflexos de erros em minha direção. O presidente tem a grande oportunidade de fazer um governo digno e diferente no Brasil. Para isso, tem de saber que o pensamento vem antes para que se possa avaliar o resultado de sua implementação.
Apenas para ilustrar o presente artigo, algumas atitudes inoportunas do presidente: indicar o próprio filho para titular da embaixada mais importante; conceder anistia de débitos de bilhões de reais do Funrural aos produtores rurais (o Funrural é o dinheiro da Previdência dos trabalhadores do campo); vetar a gratuidade das bagagens sem pedir contrapartidas às empresas aéreas; ignorar a necessidade de conciliar com o congresso nacional sem se ajoelhar e, por fim, aceitar a ingerência indevida e sem limites dos filhos no governo. Por enquanto, seu maior inimigo é ele mesmo. Esperamos que desperte, pense e governe, de verdade.