André Puccinelli, Luís Inácio Lula da Silva, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, entre tantos outros personagens da política nacional, estão presos, alguns condenados, outros não, já há algum tempo. Outros, também acusados e acusadas de crimes diversos, inclusive, contra a administração pública, estão cumprindo prisão domiciliar, uns com tornozeleiras, outros não, enfim, todos sob a pecha de criminosos imputada pela Justiça, mas que recebem tratamento diverso em suas penalidades, conforme o que dispõe cada representante do Poder Judiciário.
Então, cabe uma indagação, quer dizer que a lei é variável e aplicável em cada caso distinto, mesmo que a acusação seja para o mesmo crime? Claro que não! A lei é única e sua letra é estática. Para a lei, 1 + 1 é = 2. Simples assim. Ocorre que, e aí é que vem o detalhe (já disseram que o diabo mora nos detalhes), nenhuma lei nasce sozinha, e o seu aparecimento vem inexoravelmente salpicado de outros artigos e parágrafos, nos quais se escondem as mazelas e artimanhas, que muitas vezes ferem a essência do “artigo mãe”. Os advogados e promotores adoram isso. Nos detalhes é onde se situam todas as questões de recursos intermináveis, todas as impugnações sem sentido, toda divergência de opiniões entre magistrados e advogados, toda situação de injustiça e impunidade que assombra a sociedade leiga, que não entende a lei. A sociedade quer justiça para tudo que a fere e a prejudica, todavia, nem sempre o que ela quer, encontra amparo na lei. Dizem que isso é a base do estado de direito, ou seja, o respeito inquestionável ao que dita a lei.
Conheci André Puccinelli na Secretaria de Saúde, quando ele ainda era Andrea, pois na Itália não existe André. Existe Andrea. Chegou assim ao Brasil e se tornou André. Na política, veio de Fátima do Sul, terra de Londres Machado, que se tornaria seu maior rival na política, mas que depois o superou pela sua trajetória vitoriosa. Secretário estadual de Saúde, era um dos homens mais gentis e educados que conheci. Trabalhei sua campanha para deputado estadual, quando morreu em um acidente o companheiro Almir. Todos choraram, inclusive o André.
Depois disso, o dr. André Puccinelli viria a se tornar um dos maiores políticos de Mato Grosso do Sul. Ocupou os melhores cargos do Executivo e Legislativo Estadual e, sem sombras de dúvidas, foi um grande administrador público. O Andrea ficou para trás. Lá na Itália.
Meu coração se inquieta ao lembrar onde se encontra o meu amigo italiano. Quer dizer, nem sei se ele me considera seu amigo, mas eu o respeito. Um velho amigo, desde 1983. Não o julgo inocente nem culpado, pois nada sei dos fatos. Ele sabe, em seu íntimo foro, se merece estar ou não dentro de uma cela fria, preso, acusado por corrupção. Só lamento a lei e a Justiça não estarem irmanadas no seu caso, pois poderia estar respondendo em liberdade, já que ainda nem foi julgado pelos crimes de que é acusado.
Quem pode definir com precisão o que seja a justiça e o que seja a lei? Nem quero aqui filosofar em virtude da situação do dr. André Puccinelli. A angustia decorre apenas do fato de ver ele e seu filho presos e que possa ter cometido um crime ou crimes muitos graves, para não lhe ser concedido o direito de responder em liberdade pelos seus erros. Por quê? O que existe de tão grave?
Em tempo: nada devo, nunca recebi nenhum favor de André Puccinelli. Apenas me entristeço com tudo o que ocorre com uma pessoa que, apesar de seus erros, merece todo o meu respeito.