Correndo pela cidade, entregando os bolos feitos pela patroa, fico admirando os buracos como os poetas admiram as estrelas do céu. No caso dos poetas, é buscando inspiração, já no meu, é para preservar o que resta do patrimônio rodante.
Muitos podem pensar que aqui vai uma crítica ao gestor municipal. Não é, pois quando secretário de Transporte e Trânsito da Capital, por duas vezes, tive a mesma luta de fazer circular principalmente os ônibus e dar condições de trafegabilidade aos eixos principais. E confesso ser muito difícil.
Bem amadurecendo como pessoa e como profissional, discuto sempre com as pessoas com quem posso aprender alguma coisa, assim sendo fui a uma loja vizinha de casa conversar com um engenheiro mecânico. La fomos nós gastar saliva e nos lembramos de uma “sacada” do tempo do prefeito Juvêncio Cezar da Fonseca. Papo vai papo vem e ele, engenheiro mecânico, e eu, civil, resolvemos analisar o momento por que passa a cidade. Em síntese, desenvolvemos uma ideia de fazer um rolo compressor barato e que fosse acessível às empresas de engenharia e arquitetura que têm dívida com a prefeitura, e não são poucas, até profissionais que devam seus encargos.
Comprariam o tal rolinho compressor e com uma caminhonete pequena estariam tapando buracos. A Prefeitura de Campo Grande daria a massa asfáltica e os profissionais tapariam os buracos nas vias secundárias. O rolo sairia por volta de R$12 mil. O preço seria o mesmo das licitações existentes. Teríamos uma equipe com estagiários, até para que aprendam a tapar buracos. Sinto que às vezes falta conhecimento.
Vai aqui um toque aos leigos. Quando se desgasta a massa asfáltica, as pedras ficam com uma superfície grande para fora, o que permite que apareça um pequeno buraco; com a presença da água, esse buraco trabalha ao ser impactado pelos pneus como se a borracha fosse um embolo forçando as paredes, provocando fissuras e, decorrente dessas, uma infiltração. Com a infiltração, há o desequilíbrio da base que tem de estar permanentemente impermeável. Assim nasce um buraco.
Como esse buraco pode ser incentivado? Com a presença da água. Como evitar isso? Com a ausência da água. Como? Mantendo a curvatura com que se aplica o asfalto, uma superelevação transversal. Difícil isso? Não, só é mais trabalhoso. Vi tratarem o mesmo buraco 5 vezes no mesmo ano. Algo está errado, e não são os pneus, tenho fotos de trechos em que a cada chuva exige-se novo remendo.
É só fazer benfeito, por exemplo, no começo da Av. João Arinos a pista está plana e a água fica espraiada. Nunca vai adiantar fazer remendo, é tempo perdido. Certa feita inventamos as canaletas, a primeira foi feita na rua 15 de Novembro esquina com a Rui Barbosa e acabou o problema que a vereadora Neli Bacha tanto nos questionava. Por que não conduzir a água esses locais?
Uma outra coisa que não compreendo é assistirmos às fissuras no asfalto sem fazer um curativo em suas estrias. Um pouco de emulsão com areia impermeabiliza o local, evitando problemas. Bem, estou dizendo que existem técnicas que podem ser aplicadas mesmo em tempo de chuva. Em dois meses, não teríamos mais problemas e as empresas ganhadoras poderiam continuar seu trabalho em paz. Assim todos teriam um bom ano-novo.