Assim como as águas que salvaram os judeus da escravidão foram as mesmas que dizimaram o exército do faraó, também se aplica tal bíblico paradoxo às águas do Rio Taquari, se por um lado traz a riqueza ao Planalto, é verdade que traz proporcional pobreza à parte inundada permanentemente da planície pantaneira.
Princípios e leis científicas definidas desde Arquimedes também aparentam ser paradoxais, pois, ao contrário do preconizado no senso literal, os movimentos isostáticos comprovam que, quanto maior o alívio de sedimentos no Planalto, mais tal planalto elevar-se-á.
Após quarenta anos de desastre no Taquari, necessitamos atingir um nivelamento informacional mínimo, tais como: a conservação de um rio pressupõe a conservação e não a destruição de suas margens ou uma agricultura no Planalto só poderá ser verdadeiramente sustentável considerando-se os efeitos das leis gravitacionais na Planície!
Tal como na fábula do lobo e do cordeiro, é impossível atribuir-se à inocente Planície a culpa do criminoso desastre, mantendo a lupina responsabilidade planaltina neste reiterado caso de Omissão de Socorro...
Manoel de Barros dizia: “no Pantanal não é possível passar régua, sobre muito quando chove, pois régua pressupõe existidura de limites e o Pantanal não tem limites”.
Verdade empírica ratificada pelos mestres Ab’Saber e Orlando Valverde, ao definirem o Pantanal como um Complexo de Transição composto por inserções de todos os biomas e fitofisionomias brasileiros, informação infelizmente não considerada por muitos entes!
Com base no conhecimento empírico do poeta ou científico dos pesquisadores, pode-se afirmar que, mesmo que no Cerrado não tenha Pantanal, no Pantanal tem Cerrado. Toda ação no Planalto provoca uma reação na Planície! Assim precisamos racionalizar sobre algumas perguntas: quem aproveita a destruição do Pantanal? Quem induziu? Quem determinou? Quem financiou? Quem quer manter invisível o sofrimento dos moradores do Pantanal? Quem maneja estas lucrativas cadeias produtivas? Os cidadãos e os consumidores foram informados corretamente?
Quantas e necessárias respostas a reiteradas ações que, a pretexto de salvação, nos sufoca e condena! Quanta omissão hipócrita que precisamos iluminar! Seja com a potência do bugio ou com a tristeza do carão, com a estridência dos arancuãs ou a humildade da jaó, com os espinhos do mandacaru ou a beleza dos ipês, seguiremos tentando buscar instâncias humanas ou legais que possam entender a verdade que une poesia à razão: o Pantanal expõe, mas não impõe sua composição solidária com todos os biomas do Brasil!