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Antônio Carlos Siufi Hindo: "A santidadade está no coração do homem"

Promotor de Justiça aposentado

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Diante de tantas notícias ruins que todos os dias perseguem a humanidade, enfim, temos uma notícia alegre, festiva e digna de registro. Ela cresce de importância quando temos como seu principal protagonista uma patrícia, Irmã Dulce, que será canonizada pelo papa Francisco no próximo dia 13 de outubro. Os católicos no mundo inteiro certamente irão reverenciar uma nova luz, um novo conforto e uma nova esperança para vencer os desafios impostos pela vida moderna. 
Os brasileiros sabem de uma forma sobeja o acerto da decisão da Igreja. As obras deixadas pela santa tem a chancela do povo baiano que se privilegiou com a sua convivência mais próxima, mas sobretudo, da nação brasileira. João Paulo II quando peregrinou pelo nosso País teve um encontro histórico com a Irmã Dulce já combalida no seu leito de dor. O pontífice de então de uma forma respeitosa beijou suas mãos no propósito  inequívoco de revelar seus elevados dotes de espírito e ainda a sua grandeza moral. Era sem dúvida nenhuma o mais forte indicativo do premio que receberia anos mais tarde, a santidade. Não temos como não regozijar com esse fato. Especialmente em um País essencialmente católico. 

Essa caminhada de serviços desinteressados pautam sempre as ações diárias de homens e mulheres que se doam em favor dos desvalidos. Não pode existir nada mais sublime do que a doação. Trata-se de uma expressão generosa que as palavras, as mais bonitas e elegantes não tem o condão de defini-la com a exatidão da sua grandeza. Já disse alhures, que no silencio dos altares se erguem a grandeza dos que se consagraram uma vida inteira às renúncias materiais. A sua adoração se materializa no silencio das preces dos seus fiéis e devotos. Esse é um ato sublime. Irmã Dulce é a sua expressão maior. Mas essas oportunidades certamente tem um campo de ação bem mais amplo.  Alcançam o conjunto da humanidade. 

Todos são chamados a ser santo. São os nossos pequenos gestos que fazem a vida esboçar o seu sorriso largo para o  protagonista. Nesse sentido nenhuma dificuldade existe para experimentarmos com lucidez  essa delícia. Depende exclusivamente  da nossa manifestação inequívoca  de proposito.  Sua estrada continua larga e bem pavimentada. Esse é um encontro corajoso e que somente os desígnios de Deus,  podem melhor desvendar.  Santa Dulce dos Pobres  como será chamada após sua canonização certamente se espelhou nessas maravilhas, fazendo fecundar todos os dias da sua existência com, ações e propósitos,  que se confundem com a própria  santidade. O dinheiro, o luxo, o poder, a irreverencia e ainda outros tantos males que desvirtuam o ser humano das práticas saudáveis remetem-nos à certeza da sua pequenez e da miserabilidade das suas ideias. Da vulnerabilidade dos seus propósitos. Não sabem avaliar a dor dos moribundos. A dor intensa dos órfãos, não tem um indicativo de ideia do desastre que atinge os lares destruídos, e não sabem da importância de uma palavra  doce e suave que pode evitar um suicídio, um ato homicida e outros tantos desastres que podem nos horrorizar. Nesse contexto não há necessidade de frequentar Igrejas para atingir a santidade.  Respeitamos a crença dos fiéis. Os dogmas da Igreja. 

Mas não é preciso nenhuma comprovação científica para o indicativo dessa santidade. A santidade está no coração do ser humano. O carroceiro; o pedreiro; o carpinteiro; o sertanejo; o seringueiro e todos os homens comuns que lutam como gigantes todos os dias para criarem suas famílias também operam rotineiramente seus  milagres. Seus gestos, suas ações e  seus atos inequívocos de  bons e salutares  propósitos não dependem de comprovação científica. Elas se exteriorizam nos seus lares,  nas oficinas de trabalho, nas ruas. Tem a chancela da  população. Essa é a comprovação cristalina da santidade. 

Os santos não caem do céu. Nascem das nossas entranhas. Não são forrados apenas de virtudes. Possuem também seus defeitos. Andam ao nosso  lado todos os dias, em todos os quadrantes do nosso território. São seguramente os seus atos de rara beleza que os engrandecem.  Cada ser humano tem o livre arbítrio para traçar o seu próprio destino. Essa é a regra basilar e imutável para a construção sólida dessa grande conquista fotografada pela doçura exemplar da  santidade.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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