Artigos e Opinião

OPINIÃO

A+ A-

Antonio Carlos Siufi Hindo: "A imprensa é a irmã gêmea da democracia"

Promotor de Justiça aposentado

Continue lendo...

A democracia, na sua forma embrionária, nasceu na cidade de Atenas. A mais importante cidade-estado da Grécia antiga. A História da Civilização formalizou esse registro histórico.

Os historiadores avalizaram o fato em suas literaturas. Era a sua fase embrionária. Não se tratava de uma democracia plena, completa e acabada. As mulheres,

os estrangeiros e os escravos não participavam das grandes decisões que apontavam os rumos de Atenas.

Porém, esse vigoroso sistema político que se consolidou ao longo dos milênios busca ainda nos dias que correm o seu aperfeiçoamento. A força dos seus fundamentos a tornou a grande estrela a iluminar a caminhada de povos e nações.

Sua irmã gêmea surgiu no século 15, com a invenção da imprensa produzida pela inteligência

do alemão Johann Gutemberg. Seu histórico acontecimento mudou a história de lutas dos povos. Contribuiu para a circulação de novas ideias e para a formação de opiniões. Tirou a humanidade da escuridão em que vivia. A democracia, enfim, encontrou na imprensa livre e democrática  a complementação que precisava para se fortalecer como instrumento garantidor dos direitos fundamentais do homem.

É claro que outros fatos ocorridos no curso da história contribuíram para o seu aperfeiçoamento. A Carta de João Sem Terra, por exemplo, assinada em 1215, levou os ingleses a exigirem a limitação de poderes do seu monarca.

O ápice dessa caminhada histórica ocorreu com a vitória da gloriosa Revolução Francesa. A tripartição dos poderes constituídos do estado preconizados pelos pensadores franceses foi a sua grande marca. Um exemplo para o mundo civilizado.

Entretanto, muitos governantes, sobretudo os franceses, que assistiram ao seu nascimento, sendo produzido em suas próprias entranhas, ignoraram esse avanço. Desafiaram a inteligência dos seus nacionais. Criaram  seus próprios cadafalsos.

Foi a imprensa que determinou esses rumos. As notícias que todos os dias são colocadas à nossa disposição é a espinha dorsal da democracia. Trabalho imperioso, gigantesco. Esse é um fato que resulta inexorável. Um verdadeiro dogma. Precisa ser renovado todos os dias.

A imprensa livre e democrática faz ecoar a voz das ruas. Está sempre na linha de frente de uma luta singular. Desnuda as angústias, as revoltas, os privilégios e as decepções. Silenciá-la por meio de mecanismos anômalos, para não dizer esdrúxulos, e ainda com o objetivo de esconder as realidades gritantes que nos maltratam na vida diária, precisa ser  melhor avaliada por governantes e por todos os que possuem responsabilidades no quadro do nosso desenvolvimento econômico e social.

Trata-se de uma ação que tem o respaldo robusto do bom senso. Os fatos não nascem do acaso. São produzidas pelas ações humanas. A natureza também tem a sua participação. Não se trata de nenhuma invenção. A imprensa séria e honesta os reproduz na sua literalidade. É o caminho mais sólido para se conquistar a confiabilidade. A paz social, sobretudo precisa desse tentáculo. A livre manifestação de pensamento e de opinião tem a segurança da nossa Carta Constitucional.

É nesse contexto histórico que precisamos compreender e melhor interpretar sua importância. Esse indicativo imperioso serve de parâmetro para os avanços tecnológicos  produzidos pela internet e outras tantas mídias. Essa é a sua real grandeza.

As interpretações diferenciadas sobre os fatos noticiados resultam admissíveis, sem exageros, em razão da subjetividade de interpretação. Seu indicativo aponta que as reações contraditórias e pessoais de cada qual não podem interferir nesse maravilhoso processo de informação.

Seus jornalistas precisam estar preparados para esses desafiadores momentos.   Representam a voz da nossa população diariamente. Os fatos bons não podem ser olvidados. São frutos do trabalho honesto e silencioso dos nossos cientistas, pensadores e educadores. Eles colaboram para beneficiar a nossa população. As grandes descobertas realizadas pelos cientistas, sobretudo, nas áreas da saúde física e mental, precisam chegar aos nossos lares de uma forma correta, desacompanhadas dos vícios e defeitos que podem deturpar seus fundamentos, esse raio de sol que banha todos os dias os céus do nosso querido Brasil. Devemos significativamente a essas duas grandes conquistas produzidas pela inteligência do ser humano, que não podem ser contestadas.  

 

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

Assine o Correio do Estado

ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

Continue Lendo...

Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

ASSINE O CORREIO DO ESTADO 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).