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Ângela Maria Costa: "Educação brasileira: esse poço tem fundo?!"

Ângela Maria Costa: "Educação brasileira: esse poço tem fundo?!"

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A apresentação do fraco desempenho dos alunos do Ensino médio brasileiro, nos resultados da avaliação realizada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) recentemente, não me surpreenderam. Venho utilizando desse espaço, há pelo menos DEZ anos, tentando opinar, analisar e alertar sobre o caminho equivocado que o país vem percorrendo na educação de nossas crianças e jovens.

Dentre os inúmeros artigos publicados: A escola que não ensina/2008; O retrocesso da educação em MS... EU VI!/2009; Alfabetização no Brasil – meio século de atraso/2009; Zona de rebaixamento/2011; Exterminadores do futuro I e II/2012; A desastrosa educação brasileira/2014; A marca da educação brasileira/2014; A lesma lerda /2016 - já demonstrava, por meio de dados estatísticos, a calamidade que nos encontrávamos. Perdíamos em todas as comparações avaliativas.

O fato concreto divulgado, que causou certo espanto é que, nessa avaliação de 2017, constatou-se que sete de cada dez alunos do 3º ano do ensino médio estão no nível insuficiente em português e matemática e menos de 4% possui um conhecimento adequado nestas disciplinas. Em matemática 71,67% dos alunos apresentam um nível insuficiente de aprendizado, sendo que 23% estão no nível zero, o mais baixo da escala de proficiência.

Em português, 70,88% deles com nível insuficiente de aprendizado, e 23,9% no nível zero, o mais baixo. No ponto de vista pedagógico, os números divulgados significam que: em português - a maioria dos estudantes brasileiros não consegue localizar informações explícitas em artigos de opinião ou em resumos; em matemática - a maioria dos estudantes não é capaz de resolver problemas com operações fundamentais com números naturais ou reconhecer o gráfico de função a partir de valores fornecidos em um texto.

Em 2015 os resultados do PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes que reúne as 30 nações mais desenvolvidas do mundo e países parceiros como o Brasil, que voluntariamente, entrou nessa avaliação a partir de 2000 - já demonstravam esse atraso ao constatarem que estávamos  estacionados há dez anos entre os países com o pior desempenho. Nas três áreas, a média dos estudantes brasileiros ficara abaixo da obtida pelo PISA/2012, que colocava o Brasil em 53ª lugar em uma relação de 65 países avaliados. 

Na série histórica do SAEB, também é possível notar a estagnação do ensino médio. De 2009 para 2015 aumentamos apenas UM ponto em proficiência em língua portuguesa.  Em matemática, foi ainda pior, tivemos uma queda, em 2009 de 275 pontos, para 270 pontos. Na verdade, todos os que planejam e executam as políticas públicas de educação nas instâncias federal, estadual e municipal, já sabiam e estavam informados do caos em que nos encontramos.

Espanto para mim é ver o Ministro de Educação Rossieli Soares – nem eu sabia o nome e conhecia essa personagem, dizendo: “É possível que o ensino fundamental ultrapasse na escala o ensino médio, o que seria um absurdo e, literalmente, o fundo do poço!” 

E eu continuo afirmando, NÃO, senhor Ministro, o senhor continua, como tantos outros – presidente, governadores, prefeitos, secretários, equivocado, o ensino fundamental também não conseguirá atingir essa façanha. Não é tão simples! Se o ensino obrigatório começa na educação básica com a Educação infantil, com crianças de 4 anos, se a creche é direito fundamental e constitucional, o discurso é outro: NENHUMA CRIANÇA FORA DA ESCOLA! CRIANÇA PRIORIDADE NACIONAL.

Para mim, professora que milita na área, pelo menos há 40 anos, que estuda, pesquisa e gosta da profissão - se não começarmos pelo começo, não investirmos na boa formação de professores, em nível superior, aumentarmos salários de modo a tornar a profissão professor uma carreira atrativa e assim poder cobrar resultados; investir em construção de creches e escolas, mesmo assim, teremos ainda que rezar pela melhoria do nível socioeconômico da população brasileira, com aumento do emprego e respeito aos seus direitos básicos de sobrevivência: moradia, saúde, educação e alimentação.

E aí, eu pergunto: ESSE POÇO TEM FUNDO?!

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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