Vivemos uma enxurrada de notícias e de informações que, em alguns casos, são mentiras ou são fake news, como se diz modernamente. Com a popularização das redes sociais e dos aplicativos de troca de informações via celular cada vez mais utilizados, a possibilidade de informações falsas e mentirosas cresce exponencialmente. Eleições são vencidas ou perdidas, carreiras artísticas e esportivas são comprometidas e até profissionais experientes do meio jornalístico e intelectual são alvos nessa rede. Mas, se você pensa que essas situações são frutos da internet e da modernidade, engana-se. Algumas fake news históricas geraram extrema confusão para as pessoas das mais variadas épocas e sociedades.
O regime nazista pode ser considerado o campeão das fake news: sobre os judeus, esportes, história, antropologia, economia, guerras, religião, etc. Esse regime horrendo protagonizou algumas das maiores atrocidades contra a humanidade e grande parte disso baseando-se em fatos mentirosos. Escolhemos um fato que o consolidou no poder em 1933: o incêndio do Parlamento.
Quando a notícia do incêndio do Parlamento alemão atingiu a população em 27 de fevereiro de 1933, uma massa indignada de alemães dirigiu-se ao prédio, que estava isolado pela polícia, e os bombeiros tentavam apagar o fogaréu em vão. Hitler e Goebbels (ministro da propaganda alemã) também se dirigiram ao local para apurar os fatos. Goebbels procurava alguma vantagem política com o acontecimento, chegando a conversar com Hitler: “Vamos tomar o poder agora, por meio do incêndio, do medo e do terror”. Hitler tinha sido recém-nomeado chanceler pelo presidente Hindenburg e o partido nazista ainda não tinha se firmado no poder.
Um jovem holandês foi preso – Marinus van der Lubbe – e confessou ter sido o responsável pelo atentado em um repúdio ao governo e aos nazistas. Como ele tinha relações com os comunistas, rapidamente Hitler acusou os comunistas de uma conspiração contra o governo e declarou: “Precisamos exterminar essa peste assassina com punhos de ferro”. Naquela noite, vários deputados comunistas foram presos e as tropas de assalto S.A. foram autorizadas a utilizar armas de fogo contra os inimigos. Até abril, mais de 25 mil pessoas tinham sido detidas.
O presidente Hindenburg, pressionado, publicou O Decreto do Presidente do Reich para a proteção do povo e do Estado, no qual as liberdades de expressão, opinião e reunião eram proibidas, e o sigilo de correio, quebrado. Essas medidas possibilitaram a real ascensão nazista ao poder. Alguns historiadores ainda afirmam que o incêndio foi provocado pelos próprios nazistas para gerar um clima de instabilidade propício à utilização da violência e da censura, mas o consenso atual é de que foi realmente o jovem holandês em uma atitude impensada e inconsequente que desencadeou toda essa confusão. A população, por sua vez, acreditava nas notícias propagadas pelos jornais, que acusavam os comunistas de tramarem uma conspiração contra o governo.
As fake news não são de hoje, mas, até as mais inocentes e despretensiosas podem ser muito perigosas pois a maioria das pessoas apenas a aceitam como verdadeiro e reproduz o que viu sem contestar ou confirmar, gerando um telefone sem fio. Mas neste mundo moderno, com as facilidades das redes sociais, como evitar que um parente seu receba pelo WhatsApp uma informação e a repasse no grupo da família como uma verdade absoluta?