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ARTIGO

"A importância do atendimento Psicológico ao paciente e familiares no tratamento do câncer"

"A importância do atendimento Psicológico ao paciente e familiares no tratamento do câncer"

Redação

05/08/2016 - 02h00
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Cristiane Lang é Psicóloga, pós-graduada em Oncologia pelo Instituto Albert Einstein, SP.

O câncer é uma das doenças que mais causa mortes no mundo. Engloba um conjunto de doenças – mais de 100 - que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, formando os tumores, que podem, ou não, espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

No Brasil, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres, e, segundo o Inca – Instituto Nacional de Câncer, são estimados mais de 57.000 casos novos em 2016, representando um risco estimado de 56,20 casos a cada 100 mil mulheres. Já nos homens, o maior índice é o de câncer de próstata, estimando-se 61.200 novos casos para o presente ano, com um risco de 61,82 casos a cada 100 mil homens. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama e o câncer de próstata são os mais incidentes em todas as regiões do país.

O câncer tornou-se uma questão de saúde pública. É comum as pessoas o associarem diretamente à morte, uma vez que a maioria dos portadores acaba passando por uma rotina pesada de tratamentos médicos. Atualmente, se a doença é diagnosticada no início, e também dependendo do local onde se encontra, as chances de remissão são altas, e nem sempre o paciente tem que se submeter a cirurgias, ou a radio e quimioterapias.

Lidar com o diagnóstico de câncer é uma das etapas mais difíceis até o paciente aceitar a condição. E a presença da família é fundamental para auxiliar aqueles que vivenciam esta trajetória. Diante deste contexto atuam os psicólogos com formação em Oncologia. Embora a especialização nessa área seja pouco conhecida no Brasil e há carência de profissionais com essa formação, é essencial para oferecer apoio e cuidados específicos ao paciente com câncer e seus familiares.

Isso porque, quando um membro da família é acometido da doença, este fato não atinge todos da mesma maneira, e o atendimento psicológico trata cada pessoa desta família do modo com que ela reage à situação. O cônjuge, por exemplo, pode expressar sua dor através da negação, os filhos, rebeldia, ou irritabilidade. Já o paciente muitas vezes esconde o que sente para não demandar mais preocupação a seus entes queridos. Mesmo com todos os membros da família sendo afetados pela doença de um deles, sofrendo com a tensão e fadiga no âmbito familiar, é necessário que sejam feitas adaptações no estilo de vida deles para que seja possível conviver com a nova realidade da doença.

É papel do psicólogo oncológico é atender todas as necessidades do paciente, desde as nutricionais; se necessita ou não de fisioterapia; encaminhar para o essencial acompanhamento odontológico durante o tratamento, além de fazer também a mediação destes profissionais com a equipe de enfermagem, médicos, sempre tentando minimizar o sofrimento e as angústias que o tratamento pode trazer.

Ele também deve estar presente em todas as fases da doença, desde o diagnóstico inicial, em caso de aparecimento de más notícias, mudanças no tratamento, duração do tratamento, e, em caso de óbito, no acompanhamento do luto desta família, onde poderá oferecer técnicas de enfrentamento, além do acolhimento necessário.

Com números tão elevados, e sendo uma doença que atinge não somente o paciente, mas sim todo seu universo, sua família, amigos, causando uma mudança radical em suas vidas, o atendimento psicológico especializado pode contribuir decisivamente para obtenção dos melhores resultados possíveis, tornando-se um aliado no enfrentamento desta doença tão cruel, mas que com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, pode ser encarado de uma maneira mais leve, e desta forma fortalecendo psicologicamente todos os envolvidos nesta luta.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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