Em 8 de maio de 1945, o Velho Continente, acostumado, há quase seis anos, somente a ouvir tiros e explosões, anoitece ao som dos sinos festivos e orações em ação de graças. Na tarde daquela terça-feira, fora anunciado o cessar-fogo no Teatro de Operações Europeu: era o fim da Segunda Guerra Mundial, naquela parte do mundo. O Japão só viria a render-se em setembro de 1945.
Por ser um celeiro de histórias, Hollywood não perdeu tempo. Desde os anos de guerra (1939-1945), lançou filme após filme, divulgando as campanhas (reais ou fictícias) de seus Soldados e de Soldados aliados, com a presença dos mais famosos astros dos respectivos períodos.
Passados 70 anos, ainda é assim! “Invencível”, de Angelina Jolie; “Corações de Ferro”, com Brad Pitt e até mesmo o fantasioso “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, são alguns exemplos.
Ainda não muito longe se tem: “O Resgate do Soldado Ryan”, com Tom Hanks, Matt Damon, Vin Diesel e direção de Steven Spielberg; “A Conquista da Honra”; e, “Cartas de Iwojima“, de Clint Eastwood ... a lista quase não tem fim, década após década.
O que poucos se recordam é que brasileiros lutaram na Segunda Guerra Mundial. E o que menos pessoas ainda sabem é que há “histórias reais” desses “Pracinhas” que dão um excelente roteiro, belas passagens, tais como: a entrada das forças do Exército Brasileiro em Alessandria, Itália. A cada tropa aliada que entrava, a população saudava os soldados com palmas e vivas. Mas ao entrar a tropa brasileira, que havia libertado a cidade, a população se silencia e a recebe os soldados brasileiros, de joelhos; a homenagem deixada pela tropa alemã a três Soldados brasileiros que avançaram para dentro das linhas inimigas. Os três causaram tanto estrago, que depois de mortos, o inimigo deixou uma placa junto às sepulturas deles: “Drei Brasilianische Helden” , isto é, “Três Heróis Brasileiros”! No pátio do 20º Regimento de Cavalaria Blindada, em Campo Grande-MS, e na entrada do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, de São João Del Rei-MG, existem réplicas dos túmulos: um fuzil fincado no chão com um capacete sobre ele. Os três heróis eram do Regimento de São João del-Rei. Morreram na mais sangrenta batalha da FEB: a tomada de Montese! Eis os nomes dos três heróis: Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Rodrigues e Geraldo Baeta. Recentemente, o grupo de rock sueco Sabaton compôs uma música em homenagem aos “Três Heróis Brasileiros” (https://www.youtube.com/watch?v=1M7sUCElJK0).Pena que nenhuma delas foi aproveitada no filme Estada 47.
A Força Aérea Brasileira, com o seu grupo de caça – o Senta a Pua! – cumpriu mais missões nos céus da Itália do que qualquer outra Unidade aérea aliada. Seus pilotos voaram em média 60 missões de combate e foram responsáveis por inúmeros feitos. Tanto que é uma das três unidades aéreas não norte-americana que receberam a Presidential Unit Citatio! A Marinha de Guerra do Brasil protegeu os comboios aliados que tinham a costa brasileira como parte de sua rota e eram ameaçados constantemente pelos submarinos nazifascistas. Para auxiliar nessa missão, a Marinha deslocou o Monitor Parnaíba, fundeado em Ladário-MS (ainda hoje!), para ir até Salvador participar das escoltas. Só as viagens de ida e volta (passando pelo rio Paraguai, estuário do Prata e subindo e descendo a costa brasileira) de um navio construído para navegar em águas pluviais, para combater no mar, já dão um filme!
No último dia 21 de fevereiro, comemorou-se a conquista de Monte Castelo, uma das batalhas mais importantes que a Força Expedicionária Brasileira (FEB) participou. Acompanhando o avanço brasileiro, do seu posto de observação, o comandante da FEB, General Mascarenhas de Moraes (que comandou a 9ª Região Militar, Campo Grande-MS, de agosto de 1937 a maio de 1941), ao ver um trator abrindo caminho numa estrada, debaixo de intenso fogo da artilharia alemã, exclama: “ esses americanos são incríveis!”. Imediatamente, o Comandante do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, de Aquidauana-MS, Coronel José Machado Lopes, responde: “Não são os americanos! É a sua Engenharia, meu General!”. Eram os guris de Aquidauana dando trabalho para os alemães! Alguns desses aquidauanenses eram índios!
Mas a saga de nossos Pracinhas teve um final à la “A paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Jesus entrou em Jerusalém, no Domingo de Ramos, saudado pelo povo, e uma semana depois foi crucificado por escolha desse mesmo povo. No caso dos “Pracinhas”, a sociedade clamou para os jovens brasileiros cruzarem o Atlântico, levando consigo angústia, saudade e o extraordinário senso do dever de lutarem pela liberdade. Eles foram! Ao voltarem de lá com os louros da vitória; alguns mortos e feridos, ela os recebeu e os tratou durante esses 70 anos, com esquecimento, incompreensão e descaso. Até museus da FEB são fechados, como que numa tentativa de destruir-lhes a memória material. Memória que os italianos - que foram libertados pela FEB - preservam até hoje, como se pode ver numa cerimônia que ocorreu este ano, no qual crianças italianas cantam a Canção do Expedicionário Brasileiro, em Língua Portuguesa (https://www.facebook.com/renata.piazzon/videos/10155490474690554/)!
Mas valeu a pena! Assim como a Páscoa do Senhor salvou a humanidade, a ação de nossos Pracinhas ensina para a juventude hodierna que lutar pela liberdade custa caro, muito caro, mas deve ser feito: é o bom combate! Esse é o maior exemplo que nossos pracinhas nos legaram. Cabe a nós agora, preservar.


