"Eu nunca senti raiva dele, eu só sinto muita pena desse rapaz que tem a mesma idade do meu filho e que, ao invés de fazer o bem, só tem feito coisas ruins", é o que diz João Márcio, pai do segurança agredido e morto, Jefferson Bruno Escobar, o "Brunão", sobre Christiano Luna de Almeida, preso por homicídio doloso. A família esteve hoje na Avenida Afonso Pena, cruzamento com a Rua 14 de março, junto com Rafael Mecchi, de 22 anos, também vítima do lutador, para protestar contra o esquecimento e a impunidade.
"No meu tempo existiam aulas de educação cívica nas escolas", diz João. "O que falta para essas pessoas que se envolvem em casos de agressão e morte, como os casos daqui e os do Rio, é limite. Meu filho tinha 1 metro e 86 e não agrediu o rapaz dentro da boate, como mostram os vídeos. Ele foi conversar com o Christiano, que já partiu pra cima do Brunão", lembra o pai.
"O esquecimento é o adubo que nutre a impunidade"
Com faixas de protesto e panfletos que citam Wesley E. Hayas - "O esquecimento é o adubo que nutre a impunidade" - a família resolveu ir às ruas para que o caso de violência na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, não encubra os casos locais. "O problema é que as pessoas se aproveitam da situação e casos locais entram no esquecimento. Nós não queremos isso", afirma o pai de Brunão.
João Márcio confessa que passou a acreditar na condenação de Christiano após o trabalho da delegada responsável pelo caso, Daniela Cades. "Eu cheguei a ficar desesperançoso, mas o trabalho da delegada foi fundamental para eu voltar a acreditar na Justiça. Eu admiro o trabalho do advogado Ricardo Trad [atual defensor de Christiano], acho que como bom advogado que ele é ele vai conseguir tirar os agravantes do crime, mas tenho certeza da condenação desse rapaz", disse.
Mais protestos e mais Ongs
A família de Brunão promete não descansar e afirma que fará protestos todos os meses, sempre no dia 19, data do crime. "Para este mês estamos planejando trazer a família do Rogerinho [morto em briga de trânsito pelo dono de um jornal, Agnaldo Ferreira, em novembro de 2009] e a família do Paulinho [assassinado em fevereiro do ano passado no bairro Jardim Tarumã], também vítimas da violência e da falta de princípios morais", alega João Márcio. O local do protesto é o mesmo de hoje onde, segundo a família, há maior movimentação.
Ele pretende fundar uma Organização Não Governamental, citando o caso do Movimento da Paz e Justiça Ives Ota. O pai do garoto sequestrado em 29 de agosto de 1997 dentro de casa em São Paulo, fundou uma ONG para celebrar a paz. No cado de Brunão, a vontade do pai do rapaz é organizar ajuda para as famílias vítimas de violência que estão com os casos arquivados na Justiça por falta de dinheiro para contratar um defensor. "A ideia é boa também para desafogar o judiciário".
Vida nova após a morte
Para Rafael Mecchi, de 22 anos, agredido em 2009 por Christiano após um show no Parque de Exposições, a vida mudou - e muito.
Mais expansivo do que nas primeiras entrevistas, Rafael conta que o caso de Brunão trouxe forças para que ele lutasse pelo próprio processo que, segundo ele, ainda está sob investigação e arquivado na Justiça. Christiano ainda responde por lesão corporal grave na 5ª DP de Campo Grande.
"Tenho mais vontade de sair de casa e sempre vou vir participar e ajudar a família do Brunão", disse Rafael, distribuindo panfletos e ajudando a segurar os cartazes.