A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações brasileiras. Mas, atualmente, mais de 80% das vendas externas são de produtos básicos cotados internacionalmente (commodities). Em contrapartida, mais de 90% dos produtos que vêm da China são bens industrializados, que incorporam mais valor e geram mais empregos.
Com a balança pendendo a favor dos chineses, o governo brasileiro quer diminuir o desequilíbrio do comércio bilateral entre os dois países e diversificar a pauta de exportações para o país asiático. No final da noite deste domingo (10), a presidente desembarcou na China em uma viagem que traçará o rumo da relação do Brasil com o país asiático nos próximos anos.
Essa assimetria no comércio bilateral será um dos principais temas da pauta da viagem da presidente Dilma Rousseff. Esta é a primeira viagem internacional de Dilma a negócios, e o governo já anunciou que a presidente irá pedir “reciprocidade” no acesso de produtos e empresas brasileiras ao mercado do país asiático. O país também quer aumentar os investimentos da China no Brasil, sobretudo na área de infraestrutura.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o comércio Brasil-China movimentou US$ 56,3 bilhões em 2010, um crescimento de 52,4% em relação a 2009, quando o valor foi US$ 36,9 bilhões. Todavia, a participação de produtos básicos na pauta de exportações brasileiras saltou de 77% para 83%. Em 2000, a participação era de 68%.
Em 2010, o saldo da balança comercial do Brasil com a China teve superávit de US$ 5,19 bilhões. As exportações brasileiras somaram US$ 30,7 bilhões, uma alta de 46% em relação ao ano anterior. Desse total, porém, mais de 70% foram matérias-primas: os embarques de minério de ferro representaram 43,3% do total de vendas, remessas de soja triturada, 23,2%, e as vendas de óleo bruto de petróleo, 13,2%.
Já as importações somaram US$ 25,5 bilhões no ano passado, uma alta de 60% frente à 2009.
Partes de aparelhos transmissores ou receptores lideraram as compras internas, somando US$ 1,4 bilhões, o que representa 5,6% do total comprado da China. Muito mais diversificada que a pauta de exportações brasileiras, o topo da lista de itens chineses vendidos para o país inclui acessórios de máquinas automáticas para processamento de dados, circuitos eletrônicos, telefones, motores, ar-condicionado, tecidos e brinquedos.
Pelos cálculos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Brasil registrou em 2010 um déficit de US$ 24 bilhões de produtos manufaturados no intercâmbio comercial com a China. “Em 2011 esse déficit pode chegar a US$ 40 bilhões”, afirma Paulo Skaf, presidente da entidade.
A indústria brasileira diz sofrer cada vez mais prejuízos com a concorrência dos produtos manufaturados chineses que, além de contar com incentivos do governo, são beneficiados pela moeda chinesa desvalorizada e pelo baixo preço da mão de obra. Os empresários acusam ainda a China de práticas ilegais de comércio, com venda de produtos falsificados e abaixo do preço de mercado. Por isso, eles defendem que o Brasil não reconheça o país como economia de mercado.