O caso da menina Isabela com a condenação do pai e da madrasta me leva a pensar muito sobre o por que de todos os acontecimentos. Condenação justa ante as provas dos autos. A crueldade praticada pelo casal seria algo para a prisão perpétua e não apenas de 26 e 31 anos ainda mais que com a chamada progressão da pena, ela sairá daqui oito anos e ele 11 anos. Os antecedentes do casal criminoso, já desenhavam o que estava para acontecer e aconteceu. Era um processo de lógica que mostrava com clareza o perfil do casal e o fechamento do caso, concretizado na morte da menina de forma bárbara e cruel. O que mais aumenta o grau de indignação é que o comportamento dos insanos era do conhecimento dos pais, avós de Isabela. Nenhum procedimento foi tomado no sentido de se precaver contra essa possibilidade trágica, latente ante os fatos de relacionamento entre ex-mulher, madrasta e pai.
Os praticantes do ato criminoso foram condenados à prisão. Para mim, alguma pena deveria ser aplicada às famílias da mãe e dos condenados. Deveria a mãe de Isabela também ser, de alguma forma, penalizada além do que já foi e será pela sua consciência. Conhecedora do comportamento desequilibrado do casal, fato comprovado em seu depoimento em juízo quando declarou sobre a agressividade de ambos, ela nunca se precaveu dessa possibilidade de acontecimento, mesmo, como ela disse, notando que a filha chegava toda machucada em casa após o final de semana com o pai e a madrasta.
Algo, notoriamente, não andava dentro da normalidade de um relacionamento entre pai e filha, menos ainda com a companheira. Para mim, penso, a satisfação da ex-mulher em espezinhar o casal assassino tinha um sabor de muita vingança contra o pai. A filha a representava no meio do casal. Era sua presença constante nos finais de semana na vida da família do ex-marido. A história de tudo acabou exatamente com quem nada entendia ou sabia de toda história. Isabela pagou pela imbecilidade e ignorância de todo o grupo familiar. Não são apenas dois os culpados e muitos são os casos iguais a este. Muitas "Isabelas" estão sofrendo e correndo o mesmo risco por esse Brasil afora e quantas já se foram e que não tiveram a mídia ao seu lado para que se fizesse a justiça.
"Pai, tenho medo de morrer se ficar aqui". É uma frase dura e expressada pela menina de oito anos que ficou por mais de dez dias no corredor de um hospital do Maranhão, sofrendo com a meningite, e que veio a óbito em 27 de março de 2010. Os que permitiram tal morte pela falta de atendimento são tão ou mais cruéis que o casal assassino da Isabela. Tinham consciência do alto risco com a atitude tomada em deixar a pequena menina sem o adequado atendimento. A direção do hospital se defende dizendo que não havia vagas na UTI, mas nada fez para providenciar o translado para outro hospital o que só aconteceu nos momentos finais de vida da menina, por pressão da mídia. Fica a impressão de que a vida tem pouco valor. Neste caso a justiça não será feita.
Pergunto: por que não existem greves para denunciar esse descalabro em que está a saúde no Brasil? Ou só pelo salário vale a paralisação? Não são apenas os hospitais os culpados de mortes inocentes por falta de atendimento. Existem muitos outros grupos de pessoas culpadas que se escondem na sua posição de gestão pública, em toda sua escala hierárquica que ao final chega ao chefe maior que é o presidente da República. A falta de estrutura hospitalar, que ocasionou a morte da criança maranhense e muitas outras na mesma situação, tem sua culpa última neste cargo que é o responsável direto e maior pela saúde da população brasileira.
Qual a explicação do não funcionamento nos momentos de urgência da central de vagas estadual? De não existir, ante a carência de vagas de UTI no Brasil, uma central nacional de informação de vagas do hospital mais próximo para que muitas vidas não se percam nos corredores dos hospitais e nem obriguem os médicos e mesmo a justiça, determinar a quem deve ser dado o direito a continuar vivendo? Tudo isso são verdades que incomodam.
Raphael Curvo, Jornalista e advogado.