Fernando Miragaya, Auto Press
Picapes, utilitários esportivos, automóveis de passeio e motocicletas, usuais nas ruas brasileiras, estão cada vez mais “fardadas”. Seja para polícias Federal, Rodoviária, Civil ou Militar, diferentes modelos de vários segmentos ganham sirene, giroscópio, rádio e adesivos específicos. Um mercado que cresce na mesma medida que a Segurança Pública se torna uma das principais preocupações da sociedade brasileira. O segmento movia pouco mais de 5 mil unidades/ano em 2000 e hoje já alcança 24 mil unidades anuais. Ou seja, quase quintuplicou em menos de 10 anos. O que motiva novas marcas de olho nesse interessante volume de vendas.
No ano passado, a Renault vendeu modelos Mégane e Sandero para a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. A Ford comercializou 102 sedãs Fiesta para a Polícia Civil de São Paulo. O recém-lançado novo Fiat Uno já serve à Polícia de Minas Gerais. A Nissan foi outra que se animou. A marca japonesa atua nesse nicho há pouco mais de cinco anos e este ano fechou a venda de 470 veículos para a Polícia Rodoviária Federal. No ano passado, foram 120 unidades, só da Frontier. O curioso é que, do volume deste ano, foram 170 unidades da picape média e 300 do Nissan Tiida sedã, modelo que só vai estrear comercialmente nas revendas da marca japonesa em meados de julho. “Conceitualmente esse mercado está crescendo e existe um potencial enorme, ainda mais com as Olimpíadas no Rio e a Copa do Mundo no Brasil, que vão demandar mais aparato de segurança”, ressalta Abelardo Pinto, diretor de Vendas da Nissan.
O processo de venda é comum como toda comercialização para órgãos públicos. Primeiramente é feita uma licitação. Escolhidos os carros que vão virar viaturas, chega a fase de transformação. Só que os carros que vão servir às polícias, estruturalmente, são iguais aos que rodam com “civis” no dia a dia. Não há mudanças no que diz respeito a amortecedores, freios, pneus etc. Isso apesar de as viaturas de segurança terem uma vida útil quase 50% menor na comparação com o uso “normal” de um cidadão, já que carros de polícia rodam mais e em condições mais severas de aceleração e frenagem. “Geralmente é o mesmo carro e as empresas homologadas fazem esse tipo de alteração”, explica Marcello Paixão, supervisor de Vendas Diretas da Ford.
O carro também é muito próximo dos encontrados nas revendas. Quando são viaturas para transporte de presos, por exemplo, são dotadas da chamada cela light, na qual o banco traseiro é substituído por um banco de fibra e os veículos são equipados com uma divisória protetora entre a parte traseira e dianteira do veículo. Há ainda a cela pesada, geralmente aplicada em stations, onde é instalada no portamalas uma cela para transporte de presos. Na parte de equipamentos, geralmente, os veículos para patrulhamento das polícias Civil e Militar chegam aos órgãos “pelados”. “Os carros geralmente são mais básicos, com conteúdo mínimo necessário a sua operação. O foco é na utilização do produto”, explica Francelino Schiling, diretor de Vendas Diretas da Fiat.
Mas há exceções. “Os equipamentos na sua maioria são básicos, somente com direção hidráulica para facilitar as manobras”, ressalta Jean Carlos Tezzon, gerente-regional de Vendas Diretas da General Motors. Segundo os executivos do setor, há algumas autarquias que pedem ABS e airbag duplo para as viaturas. No caso do Tiida sedã da PRF, todos os veículos seguem com os equipamentos básicos da linha: ar, direção elétrica e travas e vidros elétricos. Para os setores de investigação, já há mais pedidos para ar-condicionado também, para que os policiais possam andar com janelas fechadas e com película nos vidros. “Varia de órgão para órgão, mas existe uma tendência por carros completos”, garante Abelardo, da Nissan.
E vender carros para polícia também serve de marketing. Afinal, ter um modelo que serve à segurança pública pode agregar imagem de robustez e confiabilidade ao produto e à marca. “No caso das motocicletas, apresenta diferenciais como agilidade, praticidade e versatilidade”, valoriza Antônio Massao Yamamoto, supervisor de Vendas para governo e frotistas da Honda. “É importante para a marca ter um carro rodando por uma autarquia, pois há uma exposição da marca, do produto. Reforça a marca junto ao cliente e às autarquias”, enaltece Marcello, da Ford.