Política

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Com perfis falsos na internet, esfaqueador de Bolsonaro fez menção ao PCC

Adélio Bispo prometeu 'revolução' com facção caso Bolsonaro ganhe

RAFAEL RIBEIRO

15/10/2018 - 16h01
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A cúpula da Polícia Federal se assustou quando apareceram as primeiras menções ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que controla o tráfico de drogas e armas na fronteira de Mato Grosso do Sul com Paraguai e Bolívia, no segundo inquérito que investiga Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, detido no Presídio Federal de Campo Grande por esfaquear o candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro. Mas o alarme, aparentemente, é falso.

Utilizando perfis falsos em redes sociais na internet, Bispo foi além de prometer "uma revolução" no Brasil comandada pela facção criminosa caso Bolsonaro seja eleito. Também enviou mensagens para lideres petistas dando conselhos de como Fernando Haddad, atualmente no segundo turno da disputa contra o candidato do PSL, pode vencer o pleito.

As revelações vieram à tona nesta segunda-feira (15). Primeiro por meio da coluna do jornalista Ancelmo Gois. Depois pelo 'Estado de Minas'. De acordo com o apurado pelo Correio do Estado, Bispo tinha uma rede com mais de 12 perfis falsos onde tentava se comunicar com lideranças petistas e debatia publicamente com eleitores de Bolsonaro.

Na primeira leva de mensagens, a PF descobriu que a ex-senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, era um dos alvos preferidos de Bispo. Por pelo menos 19 vezes antes do fatídico 6 de setembro ele criticou a conduta do partido na campanha de Haddad, sugeriu que o tom fosse mais radical e que se encerrasem alianças. "Vocês viram onde os acordos levaram Dilma (Rousseff, ex-presidente que sofreu impeachment em 2016)", disse em uma das mensagens.

Mas é nessa segunda leva de mensagens que Bispo chamou a atenção dos chefes da PF. E que cuja investigação será redobrada. Nela, também com uso de nomes falsos, o esfaqueador de Bolsonaro promete que convocará o PCC "para organizar uma revolução armada no Brasil."

INVESTIGAÇÕES

A PF instaurou um novo inquérito para dar continuidade à investigação sobre o ataque a faca de Adelio Bispo. O primeiro foi encerrado no início de outubro por causa do prazo mais curto devido ao fato do acusado estar preso. Na Justiça Federal, investigações com réu preso podem durar no máximo 30 dias.

Segundo a reportagem apurou, após ouvir mais de 30 pessoas, quebrar os sigilos financeiro, telefônico e telemático de Bispo, o delegado federal Rodrigo Morais e sua equipe não encontraram nenhum indício de que o autor da facada tenha agido a mando de outra pessoa ou em grupo.

O segundo inquérito vai herdar do primeiro todas as informações colhidas. Além das quebras de sigilo e depoimentos, a PF vai analisar todo o sistema de câmera da cidade de Juiz de Fora (MG), onde ocorreu o ataque, para traçar todos deslocamentos de Bispo desde sua chegada na cidade.

O objetivo da nova apuração, segundo relatou um investigador, é fazer uma devassa nos últimos dois anos da vida de Bispo e mapear qualquer relação dele com outras pessoas que possam indicar a participação de mais pessoas no ataque.

Embora vá se debruçar sobre todas as informações coletadas novamente nessa segunda investigação, a PF já descartou varias das hipóteses levantadas, principalmente, por apoiadores de Bolsonaro.

Todas pessoas indicadas por seguidores do candidato nas redes sociais como sendo “ajudantes” de Bispo foram investigadas e não foram encontradas indícios mínimos de participação na ação. Entre essas pessoas, como revelado, foram ouvidas três mulheres com o nome Aryanne Campos. 

Segundo os apoiadores de Bolsonaro, a mulher com esse nome teria passado a faca para Bispo. A versão foi completamente descartada investigação.

Na verdade eram perfis falsos usados pelo próprio acusado.

Adélio Bispo chega a Campo Grande após transferência (Gérson Oliveira/Correio do Estado)

REVELAÇÕES

Os investigadores descobriram que a escolha da faca como arma para o crime é explicada pelo fato de Bispo ter trabalhado como açougueiro e em uma restaurante de comida japonesa.

A PF também esmiuçou todas as transações financeiras de Bispo. Não foi encontrado nenhuma movimentação suspeita. O único depósito em espécie anormal teve origem em uma causa trabalhista. O cartão internacional que ele tinha nunca havia sido utilizado e foi enviado pelo banco sem a solicitação de Bispo.

Os equipamentos eletrônicos – celulares e notebook – também foram analisados. Dois dos quatro celulares estavam desativados e os outros não continham, pela apuração feita até agora, informações sobre contato com outras pessoas para a prática do crime. O notebook encontrado com ele estava quebrado e não era utilizado há cerca de um ano.

SEQUÊNCIA

Bispo será enquadrado pela PF no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional.

Esse artigo prevê a punição para quem cometer “atentado pessoal” por “inconformismo político”. Segundo a investigação da PF, foram as divergências políticas entre Bispo e Bolsonaro que levaram o ex-açougueiro a atacar o candidato.

Somente após a conclusão do segundo inquérito é que a PF decidirá se indicia ou não Bispo por alguns dos crimes cibernéticos, visto que a tentativa de homicídio é considerado delito de maior importunação ofensiva.

Ao Correio do Estado, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que comanda a junta responsável pela defesa de Bispo, afirmou se sentir aliviado pelas investigações até agora não mostrarem a participação de ninguém no ataque a Bolsonaro. "Nossa tese é verdadeira desde o início", disse.

Depois da conclusção do primeiro inquérito da PF e a autorização da Justiça para a elaboração do laudo por parte do psiquiatra paulistano Hewdy Lobo Ribeiro, a defesa quer confirmar a alegação de insanidade mental. Duas reuniões estão sendo realizadas por semana em Campo Grande entre os dois para entrevistas e exames, sem dias certos.

Parte da justificativa a ser usada além do laudo, contudo, já está pronta: familiares de Bispo e amigos dos tempos de escola gravaram depoimentos onde confirmam os problemas psicológicos do esfaqueador, incluindo o apelido de 'Tonho da Lua' pelo qual era chamado, referência ao personagem de Marcos Frota na novela 'Mulheres de Areia', cujo remake foi exibido em 1993 pela 'Rede Globo'.

Sobre as denúncias feitas em sites pró-Bolsonaro, de que Bispo seria levado de volta a Minas Gerais para ficar ao lado da família, Júnior desdenhou e garante que o acusado seguirá preso na Capital. "Não tem para onde ele ir. Está bem e seguro onde está agora", disse. 

Política

Moraes diz que Justiça está acostumada a combater 'mercantilistas estrangeiros' e 'políticos extremi

Fala ocorre em meio à união entre Bolsonaro e o bilionário Elon Musk nas críticas ao ministro

19/04/2024 19h00

Ministro Alexandre de Moraes Arquivo/

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O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmou nesta sexta-feira (19) que a Justiça Eleitoral está "acostumada a combater mercantilistas estrangeiros" e "políticos extremistas".

A fala é uma indireta a união entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o bilionário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), nas críticas às decisões de Moraes sobre a retirada de conteúdos das redes sociais durante a campanha eleitoral de 2022.

"A Justiça Eleitoral brasileira está acostumada a combater mercantilistas estrangeiros que tratam o Brasil como colônia. A Justiça Eleitoral brasileira e o Poder Judiciário brasileiro estão acostumados a combater políticos extremistas e antidemocráticos que preferem se subjugar a interesses internacionais do que defender o desenvolvimento no Brasil" afirmou o ministro na cerimônia de assinatura dos planos de trabalho para a construção do Museu da Democracia da Justiça Eleitoral, no centro do Rio de Janeiro.

Na presença do governador Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro, Moraes afirmou que a Justiça Eleitoral "continuará defendendo a vontade do eleitor contra a manipulação do poder econômico das redes sociais, algumas delas que só pretendem o lucro e a exploração sem qualquer responsabilidade".

"Essa antiquíssima mentalidade mercantilista que une o abuso do poder econômico com o autoritarismo extremista de novos políticos volta a atacar a soberania do Brasil. Volta a atacar a Justiça Eleitoral com a união de irresponsáveis mercantilistas ligados às redes sociais com políticos brasileiros extremistas", disse o magistrado.

Governo

Lula quer procurar Lira, Pacheco e outros ministros do STF para diminuir tensão entre Poderes

Lula e os ministros do Supremo fizeram na segunda uma análise da conjuntura política atual e diagnosticaram que há muitos focos de tensão entre os Poderes é preciso diminui-los

19/04/2024 17h00

O petista se reuniu na última segunda-feira (15) com uma ala do Supremo. Agência Brasil

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O presidente Lula (PT) pretende buscar Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que comandam a Câmara e o Senado, respectivamente, além de outros ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), em um esforço para diminuir as tensões entre os Poderes.

Nesta sexta-feira (19), Lula já trata da sua articulação política em um almoço no Palácio do Planalto. Participam os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Paulo Pimenta (Secom), além de líderes do governo no Congresso Nacional.

Também estão presentes os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE); no Senado, Jaques Wagner (PT-BA); e no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). A reunião acontece logo após a participação da cerimônia do Dia do Exército, no quartel-general da força. O almoço teve início por volta das 12h30.

O petista se reuniu na última segunda-feira (15) com uma ala do Supremo, formada pelos ministros Gilmar Mendes, Flávio Dino, Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin. O encontro ocorreu na casa de Gilmar. Estavam também no jantar os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União).

Na ocasião, Lula disse que pretendia buscar outros magistrados para conversas. O próprio presidente do STF, Luís Roberto Barroso, por exemplo, ficou de fora do encontro do início da semana. Na mesma linha, o presidente quer conversar com Lira e Pacheco.

Lula e os ministros do Supremo fizeram na segunda uma análise da conjuntura política atual e diagnosticaram que há muitos focos de tensão entre os Poderes é preciso diminui-los.

Embora não conste em sua agenda, há a possibilidade de Lula se reunir com Padilha e líderes aliados nesta sexta. Um dos objetivos do encontro seria para articular algumas dessas movimentações.

De um lado, o Senado e a Câmara têm demonstrado irritação com decisões da corte, sobretudo do ministro Alexandre de Moraes. Como consequência, ameaçam dar seguimento a projetos que miram o STF. O Senado já aprovou no ano passado uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que restringe decisões monocráticas.

Na Câmara, deputados querem abrir um grupo de trabalho para tratar das prerrogativas parlamentares, para avaliar eventuais exageros do Supremo. Também sugerem que podem abrir uma CPI para mirar o STF e TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Atualmente, há oito delas que aguardam a formalização, entre elas uma que pretende investigar "a violação de direitos e garantias fundamentais, a prática de condutas arbitrárias sem observância do processo legal, inclusive a adoção de censura e atos de abuso de autoridade por membros do STF e do TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".

Lira indicou esta semana aos líderes que deverá instalar CPIs, mas reservadamente deputados acham difícil a ofensiva prosperar.

Em outra frente, parlamentares, incluindo Lira, estão incomodados com a articulação política do governo. O presidente da Câmara chegou a dizer que o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) é seu "desafeto pessoal" e o chamou de incompetente.

Lula reagiu dizendo que só por "teimosia" não tiraria Padilha do cargo. O presidente, porém, tem pregado um apaziguamento das tensões. O receio do presidente é que o clima acabe por afetar o andamento de projetos prioritários para o governo no Congresso, além de a tensão avançar para uma crise entre Parlamento e Supremo.
 

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