Truques de ilusionismo surtiram efeito no desfile da Unidos da Tijuca e marcaram a primeira noite da apresentação das escolas de samba do Rio, no domingo. O público respondeu com entusiasmo à magia de seis bailarinas da comissão de frente que trocaram seis vezes de roupa em poucos segundos, numa coreografia muito bem ensaiada e que dava o tom do enredo da Tijuca – sobre os grandes segredos da humanidade. A agremiação da zona norte surpreendeu e ofuscou o desfile de Salgueiro e Beija- Flor, outras favoritas ao título de 2010. Antes mesmo da grande e inusitada novidade, União da Ilha e Imperatriz Leopoldinense já haviam cruzado a Marquês de Sapucaí com galhardia. A Ilha subiu ano passado para o Grupo Especial, contratou a carnavalesca Rosa Magalhães e recebeu aplausos ao abordar com irreverência Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Já a Imperatriz, embora luxuosa, teve um revés que provavelmente comprometerá seu desfile: o carro abre-alas quebrou e abriu espaço muito grande até a comissão de frente. Deve ser punida por isso. A Unidos do Viradouro foi a que mais sofreu com a graça e a criatividade da Unidos da Tijuca, pois desfilou logo em seguida. Fez uma homenagem fria ao México e não despertou a atenção da plateia. Para piorar, o samba não convencia nem mesmo a alguns foliões da escola. Não era preciso uma leitura labial mais apurada para notar que deixavam a letra de lado e preferiam mascar chicletes. A Viradouro dificilmente estará na festa das campeãs no sábado, quando as cinco melhores voltam ao sambódromo. Havia uma expectativa expl icável para o desfi le do Salgueiro, que tenta o bicampeonato. O samba de fácil refrão – “uma história de amor, sem ponto final ...” – contudo não emplacou. O algo a mais que se esperava da escola não foi visto. Já era madrugada de segunda, e os turistas nas pistas, camarotes e arquibancadas da passarela do samba ainda pareciam em êxtase com a festa da Unidos da Tijuca. Mesmo assim, o Salgueiro cumpriu seu papel ao levar para a Sapucaí vários personagens da literatura mundial, como o bruxinho Harry Potter. O carnavalesco veterano Renato Lage, que começou sua carreira na agremiação em 1977, busca sua sexta vitória no carnaval carioca. Não ousou, mas fez um desfile correto e colorido. A Beija-Flor encerrou com requinte a primeira parte do evento. A escola de Nilópolis destacou-se pela técnica, suntuosidade e garra de seus componentes – quase todos moradores da Baixada Fluminense. Tem uma capacidade cada vez mais elaborada de recriar o arco-íris, ao alinhar e casar as cores das alas, permitindo uma sequência de puro deleite ao longo do desfile. Em meio ao escândalo de corrupção na capital federal, que levou o governador José Roberto Arruda (sem partido) para a cadeia, o enredo sobre os 50 anos de Brasília não empolgou os foliões. Vice- campeã de 2009, a azul e branca fez uma apresentação correta, mas fria, que ainda enfrentou problemas com o som do sambódromo.