A Câmara de Dourados cassou ontem à tarde o mandato de Marcelo Barros, último vereador titular, julgado por quebra de decoro parlamentar, por envolvimento no esquema de corrupção detectado pela Operação Uragano. Um princípio de tumulto chegou a ocorrer ao final da sessão, envolvendo parentes do ex-vereador e do suplente Pedro Pepa (DEM), que assume como titular.
Barros, a exemplo de outros oito titulares e um suplente que chegaram a ser presos, estava até então afastado. Ele obteve nove votos a favor da cassação e três que se abstiveram por serem da mesma coligação do ex-vereador.
Barros se manifestou antes de seu advogado, Alessandro Fagundes Lemes, lendo um discurso onde dizia que jamais aceitaria propina, mesmo porque, segundo ele, sempre fez oposição ao então prefeito Ari Artuzi, mas disse que tinha plena convicção de que seria cassado. Ele, por várias vezes lembrou que em momento algum das gravações feitas por determinação da Polícia Federal, aparece recebendo dinheiro.
Pelo que consta nos vídeos, Eleandro Passaia, que fez as gravações, marcou de levar o dinheiro para Barros em uma lavanderia, mas não teria comparecido. O ex-vereador justificou, dizendo que marcou o local da entrega para tentar flagrar o ex-secretário de governo de Artuzi, oferecendo propina. Ele declarou que jamais jogaria fora sua carreira política por R$ 7 mil, valor combinado no video.
O advogado, além de pautar sua defesa no que ele considerou como falta de provas, já que Barros não aparece recebendo dinheiro nas gravações, usou alguns vídeos de sessões do Legislativo, onde o ex-vereador aparece criticando a administração de Artuzi. Ele tentou provar que seu cliente não poderia pegar dinheiro de alguém que ele combatia e que fazia oposição ferrenha na Câmara.
A sessão de julgamento de Marcelo deveria ocorrer na semana passada. Uma liminar da justiça local suspendeu o julgamento a pedido do próprio ex-vereador. Ele alegava que não havia sido comunicado a tempo e o juiz acatou. A assessoria jurídica da Câmara recorreu e derrubou a liminar, ficando a sessão para ontem. Barros tentou também outros meios, como alegações de que havia dois relatórios com parecerem diferentes.
De todos os vereadores que aparecem como réus no processo penal, entre titulares e suplentes, dez no total, o único que não foi levado para as comissões processantes é Edivaldo Moreira (PDT), que é primeiro suplente e ocupava o cargo na época em que foi preso (setembro/2010). Pelo que consta, Edivaldo está afastado, mas o prazo venceu no fim deste mês, o que significa que ainda pode retornar à Câmara.
Em todo esse processo de quebra de decoro parlamentar por conta da Operação Uragano, foram cassados os vereadores Cláudio Marcelo Hall, o Marcelão (PR), Julio Artuzi (PRB), Junior Teixeira (PDT), Paulo Henrique Bambu (DEM) e Marcelo Barros (DEM). Renunciaram aos cargos, Sidley Alves (DEM), Zézinho da Farmácia (PSDB), José Carlos Cimatti (PSB) e Aurélio Bonatto (PDT).
Gino Ferreira(DEM) e Dirceu Longhi (PT), também foram denunciados, mas continuaram exercendo as funções normalmente no Legislativo. Na penúltima sessão de cassação, semana passada, a Justiça acatou pedido de um dos vereadores que perderam o mandato, impedido os dois de participar da votação por aparecerem como réus na mesma ação penal que motivou o trabalho das comissões processantes.