Ao estabelecer os termos da contratação, Adriano e Corinthians preferiram tratar os problemas extracampo do atacante com disciplina --e descartar a psicologia.
O acordo assinado ontem pelo jogador prevê punições por faltas e atrasos. Mas nenhum acompanhamento fora de campo, como terapia, está previsto pelo clube. Só vai ocorrer se Adriano pedir.
A atitude vai na contramão à da maioria dos times em que Adriano jogou.
De seus quatro últimos clubes, Inter de Milão, São Paulo e Flamengo disponibilizavam psicólogos a ele. A Roma, onde teve a pior passagem, dispensou a medida.
Em sua carreira, o atacante já se disse deprimido, sumiu em algumas ocasiões, envolveu-se em confusões na noite e até ameaçou abandonar o futebol. Seus problemas começaram com a morte de seu pai, sete anos atrás.
O empresário Gilmar Rinaldi, de quem Adriano se separou na negociação com o Corinthians, sempre pedia aos clubes que fornecessem um psicólogo a seu cliente.
"No Flamengo e no São Paulo, teve. Na Roma, pedi, mas acho que não teve. A Inter colocou, mas depois ele não quis mais fazer a terapia", declarou Rinaldi.
Para o agente, o Imperador tem dificuldade para lidar com os problemas da vida. Negou, no entanto, que Adriano sofra de alcoolismo.
Rinaldi foi excluído da negociação com o Corinthians pelo próprio Adriano e por cartolas do clube alvinegro.
Entre os corintianos, o médico Joaquim Grava ficou encarregado de avaliar as necessidades do jogador, sejam físicas ou extracampo.
Grava declarou que conversará com Adriano para saber seu estado, mas deixará a decisão sobre a terapia nas mãos do atleta de 29 anos.
"Sei das coisas à distância. Temos que ver as necessidades dele. Para encaminhar ao psicólogo, tem que querer. Se não quiser, não adianta sentar lá e falar. Se ele quer ou não é decisivo", disse Grava.
Em seguida, o médico falou que vê outras alternativas para lidar com eventuais problemas do novo reforço.
"A maior psicologia é o comportamento. Ele levará outro tipo de vida em São Paulo. Sabemos que ele e a família já sofreram muitas coisas", declarou Grava. "Não é uma precondição [a terapia] para estar no clube."
Como um amigo no Corinthians, Adriano terá o ex-atacante Ronaldo, que o convenceu a ir para o clube e hoje atua como embaixador do time do Parque São Jorge.
Excluído, Gilmar Rinaldi acusou o ex-jogador de ser irresponsável na negociação.
Pessoas ligadas a Ronaldo, no entanto, dizem que ele não agenciou Adriano, que teve auxílio de outro amigo.
Foi ontem, no Rio de Janeiro, que o ex-atacante assinou o contrato, que lhe dará R$ 300 mil mensais garantidos.
No acordo, consta a possibilidade de multa e até de dispensa do atleta por atrasos e faltas em treinos.
O presidente corintiano, Andres Sanchez, disse ao programa "Roda Viva" que a possibilidade de punição foi um pedido do atacante.