Economia

Horta

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Ter uma "fazenda" no quintal de casa é possível

Ter uma "fazenda" no quintal de casa é possível

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Há seis anos, o professor Luciano Legaspe não compra mais ovos ou leite. E zerou seu lixo orgânico. Nem sequer um talo de alface é recolhido pela coleta de lixo de Cotia, cidade onde mora, a 30 quilômetros de São Paulo. “Quando morávamos em apartamento, já separávamos a matéria orgânica para trazer para a chácara, nos fins de semana. Fui comprando os animais de pouquinho e a matéria orgânica era consumida por eles. O que eles não comiam virava adubo.” Vieram galinhas, coelhos, uma vaca, uma cabra, uma horta e o pomar. E o professor e sua família mudaram de vez para a chácara.

Como a criação cresceu muito, ele comprou um sítio, mas mantém uma pequena criação em casa. “A cabra e a vaca ficaram com a gente pelo menos uns cinco anos. Nunca tive problema com os vizinhos”, afirma. “Claro, a família precisa curtir; se sua esposa acha um absurdo, vira um problema.” O filho do casal, de sete anos, acompanha tudo e ajuda a cuidar da criação. A esposa de Luciano se encarrega de transformar o leite em diversos tipos de queijo, manteiga e chantilly. A vaca e a cabra rendem cerca de 15 litros de leite por dia, no pico da produtividade. “Muito mais do que a nossa necessidade”, afirma Luciano.

Para ter uma boa produção de ovos - que supra as necessidades de uma família de até quatro pessoas - ele afirma que bastam meia dúzia de galinhas e os restos orgânicos frescos da alimentação. “Com a sobra vegetal de uma família, você nunca terá que comprar ração. Dá para criar os animais tranquilamente. Uma galinha come no máximo 200 gramas por dia.”

De quebra, com a alimentação diversificada e o bicho criado ciscando, os ovos orgânicos tendem a ser de melhor qualidade do que os de granja, de acordo com o professor. “Galinha é onívora, e combate insetos. Quem mora em sítio gosta de galinha porque ela controla aranha e escorpião”, exemplifica. Luciano vê na sua criação mais do que autonomia: ele enxerga uma forma de vida diferente - mais equilibrada e possível. “Por que eu não posso ter um ganso em vez de um cachorro, para guardar minha casa?”

Roça urbana


Não é preciso sair da cidade grande para ter uma “casa no campo”. O professor e biólogo Caio Saravalle divide uma casa, em São Paulo, onde mora com quatro amigos há um ano. Na horta, eles colocam em prática princípios de agroecologia e permacultura, sistemas de agricultura perfeitos para pequenos espaços urbanos.

O local tem cerca de 30 metros quadrados e supre a cozinha com brócolis, alface, rúcula, couve, banana, mexerica, hortelã, alecrim, arruda, manjericão, poejo, citronela, erva-doce, mandioca, feijão-de-corda, abóbora e tomate. “Salada, chás e temperos já não precisamos mais comprar. O próximo passo é termos produção suficiente para consumirmos verduras apenas de lá”, diz Caio.

Caio garante que a horta não toma tempo. “Organizamos de forma a ter o mínimo trabalho possível, dividindo entre duas ou três pessoas. Mexendo uma vez por semana, damos conta”, afirma. “Não tem que ficar todo dia carpindo.” Técnicas como cobrir o solo de folhas secas ou deixar para os insetos uma planta mais comida, como um “boi-de-piranha”, ajudam na manutenção.

Preservação de espécimes raros
 

A Casa do Alpendre, como é chamada a república, cultiva também um hábito caro aos “fazendeiros urbanos”: resgatar espécies que foram esquecidas ou que não possuam interesse comercial para as multinacionais de sementes. “Plantamos alguns alimentos muito ricos, mas não convencionais, como a bertalha, que é uma trepadeira com folhas comestíveis, ricas em cálcio e potássio, que vai muito bem em nosso clima”, afirma o biólogo.

Outro hábito é cultivar as próprias sementes. As de rúcula desse ano vêm dos pés do ano passado, e as de brócolis colhidas esse ano serão plantadas ano que vem. São as chamadas sementes “crioulas” ou “da paixão”, colhidas da horta para a estação seguinte. “Isso faz com que você selecione os pés mais adaptados ao clima e ao solo onde está plantando”, diz Caio.

Uma das maiores especialistas na redescoberta de espécies que não frequentam as gôndolas de supermercado é a nutricionista Neide Rigo, autora do blog Come-se. No minúsculo quintal, ela contabiliza 53 espécies comestíveis, entre ervas, frutas, leguminosas e hortaliças. Com o tempo, ela descobriu quais gostam de sol, de sombra, de mais ou menos água e espaço. O feijão orelha-de-padre, por exemplo, se deu bem na parede lateral. “É pequeno, de trepadeira, perene, e produz bastante”, conta.

Ela trabalha agora numa horta comunitária, que está se formando aos poucos com a ajuda da vizinhança, numa praça próxima a sua casa. Até o momento, a praça já conta com pés de jaracatiá, cambuci, tamarindo, couve, mandioca, manjericão, palma, pimenta, amora, pêssego, araçá, abacate, butiá e caqui. “Eu não sei quem é, mas percebo que às vezes aparece alguém e planta alguma coisa nova”, conta Neide. Ela já fixou plaquinhas para indicar a horta, mas sumiram. “A prefeitura estraga com a poda. Colocam pessoas que não sabem diferenciar plantação de mato”, se queixa.

Neide não se furta a consumir também vegetais que acha na rua, como dente-de-leão, caruru, beldroega, seralha e pincel-de-estudante, que pouca gente sabe que são comestíveis. “Lavo, desinfeto e ‘nhac’! Com certeza é melhor do que as hortaliças cultivadas com agrotóxicos e irrigadas com água contaminada com esgoto, como acontece em alguns lugares do cinturão verde de São Paulo.”

Pomar na rua


Vizinha de Neide, a dentista Ana Cristina Campana, 42 anos, também põe a mão na terra. “A relação do paulistano com árvores é muito ruim. Ele encara como algo que suja a rua, estragam a calçada com as raízes, traz sujeira de passarinhos e cujas frutas estragam a pintura do carro”, afirma. “Acho mágico ver as plantas se transformando, ter flores, abelhas. As coisas acontecem todo dia.”

Para incentivar a discussão sobre a arborização da cidade, o ambientalista Ricardo Cardim criou o blog Árvores de São Paulo. “A cidade cresceu à custa do verde e está desesperada por se tornar verde de novo”, afirma. Ele é contra a lei municipal que proíbe o plantio de árvores frutíferas em espaços públicos. “Há diversas nativas com frutos saborosos adequadas para serem plantadas nas ruas, como o cambucá, cambuci, jabuticaba e cabeludinha, que dá até em vaso”, diz. Cardim ressalta que qualquer árvore traz benefício, mas as nativas devolvem a fauna original à cidade. “A partir das frutas, você começa a enriquecer a complexidade da cadeia alimentar. Em 1930, tínhamos o dobro de espécies de passarinhos na cidade do que hoje”, exemplifica. Pragas como pombos, ratos e baratas voltam a ter predadores naturais, como pássaros e aves de rapina.

Outro benefício que o ambientalista aponta é que esses pequenos pomares urbanos que começam a pipocar aqui e ali devolvem a cidade às pessoas, dando sombra, frutos e espaços de repouso. “Árvores têm um poder muito grande de conectar as pessoas e de sensibilizar os mais duros corações”, afirma. De acordo com o ambientalista, cada centímetro de cimento a menos ajuda a desafogar a cidade.
 

HABITAÇÃO

Contratação de crédito imobiliário registra queda 33,9% no primeiro bimestre em MS

Em janeiro e fevereiro foram negociadas 591 unidades habitacionais no Estado, ante os 894 imóveis financiados no ano passado

19/04/2024 08h30

Foto: Arquivo / Correio do Estado

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O volume de imóveis financiados em Mato Grosso do Sul apresentou queda de 33,89% nos primeiros dois meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2023.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), no 1º bimestre foram negociadas 591 unidades por meio de financiamentos, o que resultou em R$ 222,642 milhões disponibilizados para negociações com recursos da poupança. 

Já em janeiro e fevereiro do ano passado foram negociadas 894 unidades por meio de crédito imobiliário utilizando o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), e o valor das operações quase chegou a R$ 290 milhões (R$ 289.449.681,00). Quando analisados os valores, a diferença resulta em redução porcentual de 23,08%.

Em janeiro do ano passado foram disponibilizados R$ 161,620 milhões - para 487 unidades negociadas, contra R$ 113,143 milhões e 283 imóveis do primeiro mês de 2024, ou seja, R$ 48,477 milhões a menos liberados para a compra de imóveis.

Segundo análise de especialistas, a redução do volume aplicado na poupança teve influência direta no cenário de Mato Grosso do Sul.

Em fevereiro de 2023 os recursos chegaram a R$ 127,829 milhões (407 unidades), ante as 308 unidades deste ano, e R$ 109,498 milhões, redução de R$ 18,331 milhões.

Dentre os principais motivos para a queda dos financiamentos no Estado, o principal é o juro alto praticado pelos bancos nas operações imobiliárias. As taxas ainda estão muito parecidas com a da Selic, fazendo que o valor contratado do financiamento quase dobre ao final do período.

Nas simulações feitas pelo Correio do Estado, por exemplo, as taxas de juros em financiamentos imobiliários no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que utiliza os recursos do sistema brasileiro de poupança, variaram entre 9,5% e 12,5% ao ano, a depender do relacionamento que o cliente tem com o banco.

O economista Renato Gomes explica que o panorama está também relacionado aos resgates e os saques que têm acontecido nas aplicações da poupança.

“Os brasileiros estão tirando dinheiro da poupança pela baixa atratividade, uma vez que essas pessoas estão interpretando, que não está compensando manter o dinheiro na poupança”, pontua.

Gomes destaca ainda que os valores acumulados na poupança são destinados para aquisições imobiliárias por meio do SBPE, uma modalidade de crédito que depende dos recursos da poupança. 

“Esse recurso fica escasso e, portanto, ocorre uma queda na quantidade, no volume de financiamento advindo desta linha de crédito, que é o financiamento imobiliário pela poupança”, detalha o economista.

HISTÓRICO

Nos seis anos anteriores, houve uma instabilidade no volume de negócios fechados através dos financiamentos com recursos da poupança.

De acordo com o relatório da Abecip, entre 2018 e 2021 os números de unidades e valores negociados ficaram em ascensão. Já nos dois últimos anos houve declínio nos financiamentos.

 

Em 2018 foram 3.544 imóveis financiados em Mato Grosso do Sul. O número subiu para 4.038 em 2019, para 6.200 em 2020 e atingiu o ápice em 2021, quando 10.543 unidades foram negociadas no Estado.

Conforme agentes do setor, a pandemia da Covid-19 impactou em mais pessoas trabalhando de casa e com isso muitos saíram do aluguel e compraram a casa própria no período. 

Em valores, o montante também teve ascensão nos anos citados, saindo de R$ 759,076 milhões nos 12 meses de 2018 para R$ 2,653 bilhões em 2021, alta 249% no período. 

Já em 2022, o valor disponibilizado para financiamentos imobiliários com recursos da poupança no Estado reduziram para R$ 2,606 bilhões, resultado 9.104 moradias negociadas. Enquanto no ano passado, houve uma segunda queda tanto em valores (R$1,826 bilhão) quanto em unidades financiadas (5.944).

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Economia

Petrobras quer retomar obras em navios inacabados pré-Lava Jato

Embarcações eram construídas por estaleiro que fechou as portas após início da operação

18/04/2024 21h00

Fernando Frazão; Agência Brasil

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A Petrobras estuda uma maneira de retomar as obras de dois navios petroleiros remanescentes das encomendas feitas ainda no primeiro programa de revitalização da indústria naval brasileira, nas primeiras gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As embarcações eram construídas pelo estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), que fechou as portas em 2015 após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Hoje, elas pertencem ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiou as obras.

Os dois navios eram parte de um contrato de quatro embarcações do tipo Panamax assinado entre o Mauá e a Transpetro, subsidiária da Petrobras para o transporte de petróleo e derivados.

Delas, apenas uma foi entregue. Outras duas estavam em fase avançada de construção e a quarta, ainda em estágio inicial. Os navios mais avançados passaram anos no cais do estaleiro Mauá e hoje estão no estaleiro Ilha, na zona norte do Rio, que pertence ao mesmo grupo.

Em evento sobre o setor nesta quinta-feira (18), o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, disse que a empresa vem negociando com o BNDES a compra dos navios para concluir as obras. "É intenção da Transpetro retomar esses navios", afirmou.

Uma das embarcações sofreu inundações na casa de máquinas durante o período em que esteve parado no Mauá, o que danificou o motor. A troca demandaria abrir novamente o casco, o que é um desafio ao projeto.

"Não é simples", afirmou Bacci. "Para trocar o motor tem que fazer uma cesariana no navio", comparou. A ideia seria contratar um estaleiro para realizar a operação e concluir as obras.

Na época, os navios foram encomendados por US$ 87 milhões, cada um. Foi a última licitação de navios do programa naval dos primeiros governos Lula, que tenta novamente fomentar a atividade do setor.

A Transpetro prepara-se para lançar licitação para a encomenda de quatro navios para o transporte de combustíveis, já aprovadas pela Petrobras, mas cujo leilão depende de medidas do governo para ampliar competitividade dos estaleiros brasileiros.

Entre elas, está a retomada da cobrança de imposto de importação sobre navios, que ficaram isentos em lei aprovada pelo governo Jair Bolsonaro (PL). Outra é a aprovação pelo Senado de projeto de lei que acelera a depreciação de ativos industriais no país, que já passou pela Câmara.
Bacci reforçou que a Transpetro estuda contratar mais doze navios --quatro de combustíveis líquidos e oito de gás de cozinha-- mas a encomenda ainda não foi aprovada pela Petrobras e, portanto, deve ficar para 2025.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendeu que, apesar dos problemas do passado, o Brasil deve voltar a fomentar a indústria naval "sem nenhum sentimento de culpa".

Ele apresentou a demanda da Petrobras para o setor, que inclui módulos de plataformas de produção de petróleo, desmantelamento de plataformas antigas e a construção de navios e embarcações de apoio à produção.

A companhia já lançou licitação para 12 barcos de apoio a plataformas em alto mar e planeja licitar mais 10 ainda este ano. Outros 11 serão necessários até 2030. Ao todo, são previstos investimentos de US$ 2,5 bilhões, com a geração de 28 mil empregos.

Prates defendeu também a retomada de obras de refino paralisadas pela Lava Jato, como a Refinaria Abreu e Lima e o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
"Temos que terminar, vamos retomar uma por uma. Vai virar o quê? Elefante branco, com 80% concluído, como essa planta de fertilizantes do Mato Grosso do Sul? Se for viável, faremos."

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