Trabalhei durante uns quatro anos em sistema penitenciário, onde contacteime com um bom número de ditas personalidades psicopáticas ou antissociais. Quase sempre apresentam uma deficiência afetiva, uma pobreza de sentimentos humanos que os torna incapazes de empatia, ou seja, capacidade de se colocarem “no lugar do outro”. Não têm vínculo afetivo com ninguém, nem laços a preservar ou motivos para consideração com quer que seja. Sua relação com o mundo é utilitária, manipulatória. Seria sádica apenas se necessário, como instrumento para alguma vantagem imediata. Com algum esforço simulam consideração ou respeito, até atingirem seus objetivos. A simulação e a mentira são instituições básicas de seu comportamento. Para terem o poder sobre o meio ambiente, usam e abusam da habilidade de jogar um contra o outro, enfraquecendo as relações grupais para, então, dominar. A dominação na cela ou qualquer outro espaço facilita-lhes a realização de seus objetivos práticos e imediatos. Quando desmascarados ou pegos em flagrantes, quase sempre os vi assumindo seus golpes. “É, doutor, o Sr. me pegou”. “Dancei”... Seja por conveniência, nesse momento não se fingem de idiotas ou não nos tratam como tais. Pois bem, caro leitor, utilizando tais referências e experiências, confesso-me incapaz de, com a psicologia, entender o nível da cara de pau de pessoas ligadas a este ou aquele partido político, quando pegos no mais explícito flagrante de corrupção. Ou seja, uso de sua posição para beneficiar-se ou a seu partido, embolsando recursos públicos, de terceiros ou empreiteiras chantageadas. Curiosamente, não entregam a rapadura, talvez por não acreditarem na punição ou crerem que, num ou noutro momento uma blindagem funcionará. Vemos tanto isso que chega ser enfadonho tocar no assunto. Mas a semana inicia-se rica nessa seara, quando nomes e “rolos” retornam à nossa lembrança trazidos, graças aos céus, por nossa imprensa que teima em exercitar sua nobre missão, tanto mais relevante quanto mais outras instituições parecem fraquejar. Neste momento os resíduos sólidos que vêm à tona giram em torno da instituição Bancoop, cooperativa objeto de investigações e processos. O mensalão volta à baila, com novos nomes e novos comprometimentos. Pois bem, leitor, nesse contexto, assim dizendo para sermos educados e não dizer outra coisa, é muito interessante e bizarra a postura de militantes do partido mais comprometido com ações de apropriação de recursos públicos e privados, para fins partidários e particulares, na defesa dos cumpanhero. Diante da impossibilidade de negar os fatos, pois aí estão os cooperados sem seus apartamentos, impedidos de participar de Assembleias, o desvio de recursos (vale a pena entrar no YouTube, e colocar “Bancoop”) adotam uma linha de defesa com perguntas deste tipo: “Mas e o dinheiro das privatizações do FHC?” Creio que até poderia ser “E a violação do Tratado de Tordesilhas pela Coroa Portuguesa?” Fato é leitor, que diante de fatos delinquenciais inquestionáveis, parece que, pelo fato de alguém nalgum momento ter possivelmente praticado outro crime, tudo está permitido e tudo está liberado. E ponto final. Ou simplesmente se diz: “É coisa de véspera de eleição”... Pronto, e todo rabo está escondido ou proibido de, neste momento, apontá-lo. Pensar o contrário seria “linchamento do Partido, tadinho!” Não sei o que o leitor pensa, mas a mim me parece que estamos num ponto de mutação da cara de pau. Ou talvez estejamos diante de um produto transgênico obtido num laboratório “do mal” que conseguiu acasalar definitivamente canalhice com ideologia. Não dá rima, mas, até aqui, tem dado resultados para o triunfo da maldade. Até quando a Nação permitirá? Ou já fomos socializados, reeducados pela psicopatia ideológica?